Tal como expus no meu último artigo (”Trumpeçar na Ação Climática”), o mundo está a urbanizar-se a um ritmo assinalável e, hoje, já metade da população vive em cidades. Se na minha reflexão precedente me debrucei sobre a importância do desenvolvimento sustentável como forma de mitigação das alterações climáticas, hoje abordo o tema da resiliência de um mundo – e de um país – mais urbano e, por isso, mais vulnerável a eventos naturais extremos.
Temos vários exemplos de cidades que, em tempos, se apresentavam como dinâmicos polos industriais e que hoje se deparam com uma intensa regressão demográfica. Pensemos em Yichun (China, -14,8%), Khulna (Bangladesh, -13,6%), Riga (Letónia, -12,8%), entre outras. Os países desenvolvidos não são exceção a este processo de desindustrialização de regiões rust-belt, basta atentar nos exemplos de Detroit e Pittsburgh. Pittsburgh – que em tempos foi a “capital do aço” e sede do império de Andrew Carnegie – nas últimas décadas viu a sua população diminuir a um ritmo de 10 mil habitantes por ano, sendo hoje a segunda cidade mais envelhecida dos EUA¹.
Em Portugal temos assistido a uma desertificação das cidades do interior, a par e passo com o declínio da indústria convencional no litoral Norte. A força centrípeta de Lisboa e Porto está a fragilizar o país, tornando-o menos resiliente a fenómenos naturais extremos como as cheias, as secas prolongadas e os incêndios (como se viu na tragédia de Pedrogão Grande). E sabemos bem que o sul da Europa será umas das regiões mais afetadas pelas alterações climáticas.
Estamos num ano de eleições autárquicas, pelo que seria útil que estes desafios fossem alvo de reflexão e de propostas políticas concretas. O tema do interior é antigo, mas nunca mereceu uma estratégia de longo-prazo concertada entre a administração central e o poder local.
Os autarcas do interior devem preocupar-se com a fragilidade das suas cidades, agudizada pela regressão demográfica. Seguramente vamos ler, em vários manifestos eleitorais, promessas de captação de investimento para cidades do interior. Em abono da verdade esse objetivo faz todo o sentido, mas será exequível? Todas as cidades do interior ambicionam receber um polo industrial de uma multinacional ou um centro de competências na área das TIC ou da energia. Mas quais são os atributos que cada cidade oferece aos investidores? Essa é a equação que os autarcas têm de resolver.
As cidades do interior devem competir no mercado internacional, de forma a entrarem no radar das multinacionais. Como? Apostando na educação, formação profissional e no ensino (para adultos) da língua inglesa, promovendo um correto ordenamento do território, assegurando um elevado padrão de qualidade de vida, oferecendo serviços de ecoturismo e desenvolvendo infraestruturas de serviços partilhados (p.e. parques empresariais e incubadoras de startups).
A melhor forma de combater os efeitos da desertificação do país rural passa por tornar o interior atrativo para os portugueses, mas também para os estrangeiros que nos olham como destino de turismo e investimento.
¹Financial Times, “Incredible shrinking cities”, 18/06/17