Vive-se um tempo tão excecional que, talvez para que não se esqueça o que é realmente importante, multiplicam-se os “diários” sobre a quarentena. Alguns dissecam os efeitos destruidores da ameaça sem rosto que é a Covid-19. Outros focam-se nas novas rotinas das famílias em casa, nos relatos de entreajuda de vizinhos ou na diminuição da poluição.

Esta entrada de mais um diário, ao 11º dia desde que foi decretado o estado de emergência, em Portugal, focará boas notícias sobre a adaptabilidade dos negócios. Sabemos que tempos extraordinários exigem respostas extraordinárias e novas soluções. Num período de vulnerabilidade, engrandece-se o que também nos torna humanos: a capacidade de conexão para, juntos, darmos a volta por cima.

A pandemia é um colapso do qual nos teremos de reerguer, controlando as respostas que damos perante os desafios que se colocam. É neste contexto que a necessidade dita o engenho e a criatividade.

Marcas que produzem perfumes, como por exemplo a Christian Dior, estão a fabricar gel desinfetante para hospitais. Em Portugal, a Super Bock e a Destilaria Levira anunciaram também a conversão de álcool de cerveja em gel desinfetante. No Reino Unido, os fabricantes Rolls Royce, Ford e Honda avaliam a construção de ventiladores. A Google está a envidar esforços para retirar do ar anúncios que se aproveitem do contexto do vírus para vendas.

O LinkedIn e a Adobe estão a disponibilizar cursos sobre adaptabilidade e “innovative thinking” para empresas de todas as dimensões. A Microsoft mantém a remuneração integral de fornecedores num período de redução de serviços. E não só de grandes marcas se faz a mudança. Uma fábrica nacional destinada à produção hoteleira, por exemplo, alocou os seus 20 trabalhadores a uma linha reconvertida de produção de máscaras.

A par destas reconversões de negócio, surgem oportunidades que revolucionam a indústria: o e-commerce dispara, desenvolvem-se soluções tecnológicas com a missão de manter a população protegida, pequenos negócios digitalizam-se para vingarem, o trabalho remoto amadurece como nunca.

Quem já lidera esta transformação digital dá a mão a quem, mais do que nunca, precisa agora de se reinventar. Também na cultura assistimos a uma revolução, ao entrar em nossa casa e ao alcançar novos públicos: museus abrem portas digitais, multiplicam-se concertos em streaming e disponibilizam-se livros e filmes.

Contra a desinformação, tem força a informação séria e credível. Ganha-se um novo sentido de escala. A verdade é que na nossa casa cabe todo o planeta e o impacto que cada um tem no outro é inquestionável. Estes exemplos empresariais mostram a união de esforços para um bem comum. É que, ao longo do tempo, sempre desenvolvemos a nossa criatividade para nos adaptarmos e evoluirmos. Em mais uma mudança imprevisível, o mundo nunca mais será o mesmo. Mas alguma vez o foi?