A economista italiana Mariana Mazzucato escreveu no seu artigo – E se a Economia valorizasse o que importa: “Numa economia que trata o produto interno bruto como um fim último, as pessoas e o planeta são apenas meios, e muito do trabalho que sustenta a sociedade é completamente ignorado. Este statu quo não só é patológico, insustentável e mau para a nossa saúde, mas também totalmente desnecessário”.

É comum ouvirmos que a economia está frágil, que o acontecimento X ou Y assustou os mercados, que agências de rating condicionam a perceção de valor que um país ou empresa têm, que uma guerra ou escassez de produto tem um efeito negativo na economia. A economia está deprimida?

Olhando para a forma como a economia é retratada diariamente, como psicólogo, chama-me à atenção palavras como “mercados ansiosos”, “desvalorização de moeda”, “depressão económica”, entre muitos outros, sendo que a maioria desses termos são representações negativas, que se traduzem em previsões de futuro mais sombrias, contribuindo para uma perceção de futuro menos positiva.

O impacto que este discurso tem na economia (leia-se vida das pessoas), não é positivo. Não é, pois, de admirar que estas perceções da economia se traduzam em preocupação ou apreensão expectante, por vezes exagerada, agitação fácil, muitas vezes com intenso medo de perder o controlo e colapsar a partir de um sintoma mais ou menos ligeiro que (invariavelmente) pode produzir um efeito catastrófico.

Perante tais “sintomas”, que competências poderiam ser desenvolvidas para a promoção de um equilíbrio gerador de aumento de bem-estar? De uma forma simplificada promover a resiliência. Para além de ser um dos sound bytes com maior sucesso, dá também bons títulos para artigos de opinião. Mas o que significa ser resiliente, qual o seu custo, quanto tempo demora, ou quais os trade offs necessários?

Apesar do termo ser originário do campo da física, referente à propriedade dos corpos poderem retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica, foi adotado pela psicologia para se referir à capacidade que as pessoas têm de se adaptarem às ameaças geradoras de stresse.

Ser resiliente envolve comportamentos, pensamentos e ações que podem ser aprendidas, exercitadas e desenvolvidas, através da elaboração de planos realistas, habilidades de comunicação e resolução de problemas, visão positiva do próprio/a e a capacidade de gerir sentimentos e impulsos fortes.

Talvez seja por aqui que se possa iniciar um processo de promoção de resiliência económica, através de uma melhor gestão de “sentimentos” e impulsos, que condicionam processos de tomada de decisão em contextos de crise ou emergência e quase sempre com movimentos de retração pois o sentimento de ameaça é elevado.

Perceber que decisões em contextos de crise ou percecionados como ameaçadores acabam, por vezes, em caracterizações da economia como a que abri este artigo, comecemos por aprender, construir e desenvolver a resiliência na economia da mesma forma que a proclamamos para as pessoas, alimentando relações positivas, aceitando a mudança como parte do processo, encontrando significados, aprendendo com as nossas experiências e cuidando no nosso bem-estar.

O impacto que a economia tem nas nossas vidas é inegável, com o poder de modelar estados de espírito, perceções de futuro e avaliação de bens e produtos, sendo muito importante zelar para que a sua estabilidade e resiliência sejam reforçadas tornando-se saudável, sustentável, promotora de saúde e favorecendo as pessoas e o planeta, valorizando o que importa: as pessoas e o bem-estar.

O autor assina este artigo na qualidade de responsável pela relação entre a psicologia e a tecnologia na Ordem dos Psicólogos Portugueses.