Donald Trump desencadeou uma série de tempestades tarifárias nos últimos quatro meses, deixando empresas, nos EUA e em todo o mundo, a tentar reparar os danos, frustradas com o cenário de incerteza que desafia a sua confiança.
No final da semana passada foi lançada nova ameaça à União Europeia (UE), o maior parceiro comercial dos EUA, com Trump a seguir padrão semelhante aos ataques tarifários ao Canadá e México, China e até mesmo ao do “dia da libertação” a dezenas de países.
Primeiro, ameaça, normalmente na sua rede social Truth Social, e gera alertas imediatos nos países afetados. Depois, vem a imposição, ignorando avisos, aplica as tarifas, contrapondo que com elas arrecadará biliões. Lança o pânico nas bolsas e a preocupação generalizada e o seu governo começa a vacilar, adiando isenções e criando a esperança de uma luz no fim do túnel.
Surge então o recuo, frequentemente revelado na Truth Social, com Trump a apresentar o seu golpe estratégico quase sempre como um avanço nas negociações ou até como uma suposta inversão da intransigência dos países, como assistimos no caso da China.
O elenco de países vai-se alterando, mas o guião é o mesmo. O Reino Unido e a China já conseguiram avanços negociais, mas o progresso tem sido mais lento para a UE, uma fonte de frustração para Trump, dado que o bloco vende aos consumidores americanos mais produtos do que compra a empresas americanas.
Após a ameaça à UE de aplicar uma tarifa mais pesada de 50%, criando nova pressão nas bolsas, veio o anúncio de adiar as novas tarifas até 9 de julho.
A UE afina, entretanto, as listas de tarifas retaliatórias que os países europeus poderiam impor às importações americanas, como máquinas, soja e bourbon. Um plano de retaliação que Trump será instado a reconsiderar, ainda que o rejeite publicamente.
As ameaças contínuas do presidente dos EUA, de fixar medidas ainda mais severas, representam um sério risco às economias. A sua sistemática imprevisibilidade continua a minar a confiança e a estabilidade numa das alianças económicas mais importantes do mundo.
Esta parceria transatlântica é mais do que uma relação comercial. É uma aliança construída sobre valores comuns, laços enraizados e prosperidade mútua. E está a ser aniquilada de forma imprudente pelas ameaças tarifárias erráticas de Trump.
A Casa Branca impôs um nível extraordinário de incerteza à economia global, sem perceber que as tarifas não beneficiam ninguém.
A UE avisa: não aceitará uma relação comercial baseada em intimidação. A resposta será proporcional e compatível com as regras da OMC, minadas pelas táticas de Trump e que levaram já um tribunal federal dos EUA a decidir que extrapolou a sua autoridade ao impor tarifas globais. O Comissário Europeu do Comércio já pediu aos EUA que tratem as negociações comerciais com respeito, e não com ameaças. A saúde das nossas economias está interligada. Minar essa relação seria um ato de autoflagelação mútua.
A verdadeira tarefa é clara: construir um futuro de comércio global aberto, justo e estável. Perante as palavras de Maros Sefcovic, é caso para dizer: ‘Respect, Mr. Trump!’