Uma sucessão de atos relativos às forças de segurança têm posto em causa a autoridade do Estado sem que se verifique uma tomada de posição pública firme e determinada que deixe claro o papel e a relevância de todos aqueles que servem a comunidade nas polícias.

As forças de segurança merecem o nosso respeito pelas difíceis tarefas de que são incumbidas. Assegurar o cumprimento da lei não se mostra uma tarefa fácil ou simples quando os seus destinatários não estão disponíveis para ajudar. E, em várias ocasiões, parte-se do princípio incorreto que são os agentes da lei aqueles que primeiro violam o seu dever.

Um recente despacho de arquivamento relativo a ofensas a agentes policiais levou a que a sua posição ficasse fragilizada, parecendo ser admissível ou legítimo serem insultados, diminuídos ou secundarizados. Tal não é possível num estado de direito, onde os agentes também são obrigados a cumprir a lei como qualquer cidadão. E mesmo que se reconheça que têm um dever especial na prossecução das disposições legais, isso não pode permitir quaisquer abusos dos cidadãos em circunstâncias normais.

Por vezes parece que se verifica uma predisposição para melhor aceitar o papel e as queixas das vítimas do que o papel e eventuais queixas de quem compete aplicar a lei. Poderá haver exageros em algumas situações, também estes inadmissíveis, mas não se pode tomar a nuvem por Juno e generalizar comportamentos esporádicos.

As tarefas não são fáceis. Os agentes, sendo preparados para o exercício das suas funções em circunstâncias complexas, merecem respeito em qualquer caso, pois que em última instância o seu dever primeiro é o de fazer cumprir a lei e salvaguardar pessoas e bens.

Os membros das forças de segurança merecem o reconhecimento do seu papel. E merecem que a comunidade lhes diga do seu apreço pelas dificuldades que passam. Mas não merecem que alguns apareçam a fomentar o descontentamento e aproveitem as suas dificuldades para com isso ganhar espaço público de intervenção.

As forças de segurança têm desafios sérios pela frente. Funcionais e profissionais. Enquadrados por uma hierarquia clara, devem ser ouvidos quanto à necessidade de reconhecimento e retribuição pelas dificuldades. A estrutura de enquadramento político deve igualmente ter presente o reconhecimento público do relevante papel desempenhado pelas forças de segurança.

A falta de atenção e reconhecimento produz normalmente um efeito contrário de desconsideração e menorização. Tal não pode suceder com os agentes que têm como responsabilidade a proteção de todos nós, pois é nas franjas do descontentamento que cresce a perda de respeito pela questão mais relevante cometida às polícias, o sentimento de autoridade.

É neste espaço que crescem os extremismos, as atitudes mais radicais, o espírito incomodado. A hierarquia não pode ser insensível. O poder político não pode ser surdo. Os cidadãos não devem esquecer as dificuldades quotidianas de quem anda na rua a fazer cumprir a lei.

Não podem as reivindicações legítimas ser ignoradas. Nem devem ser confundidas com protestos gratuitos tantas vezes promovidos com objetivos políticos. O reconhecimento individual que todos sempre buscam também pode ser alcançado no reconhecimento coletivo. Porque todos nós precisamos de quem exerça a autoridade dentro da lei, para fazer cumprir a lei. Sem deixar derrapar qualquer situação para oportunismos de ocasião.