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Respostas Rápidas. Que Superliga é esta que pretende destronar a Liga dos Campeões e tanto incomoda a UEFA e a UE?

Clubes ingleses, espanhóis e italianos querem criar uma prova que crie um novo modelo de negócio no futebol europeu. UEFA e FIFA estão contra, ameaçando excluir das suas provas os clubes que participarem na Superliga europeia. UEFA admite recorrer aos tribunais. Comissão Europeia acusa “clubes fundadores” de cortar relações “com tudo aquilo” que o futebol representa.
19 Abril 2021, 11h54

A competição há largos meses que estava a ser alinhavada por 12 dos mais maiores clubes do futebol europeu, mas nada fora oficialmente anunciado. Até este domingo. Ontem, foi anunciada pelos referidos 12 dos mais influentes clubes europeus a criação de uma superliga europeia de futebol. A nova competição pretende superar a Liga dos Campeões, organizada pela UEFA, como palco do futebol de elite. Mas as reações à nova competição não estão a ser unânimes, com UEFA e a Comissão Europeia a discordar desta superliga.

Mas o que está na origem desta competição? O que querem estes 12 clubes? Qual será o formato da prova? E qual a posição da UEFA? E os clubes portugueses terão espaço nesta competição? O Respostas Rápidas do Jornal Económico dá-lhe as respostas.

O que foi anunciado?
A 18 de abril de 2021, num comunicado conjunto, foi anunciado que “doze dos clubes europeus mais importantes” chegaram a “acordo para a criação de uma nova competição, a Superliga, que será regida pelos seus fundadores”. A nova competição ainda não tem data definida e sabe-se que não será organizada pela UEFA.

Quem são os clubes fundadores?
Entre os fundadores da Superliga europeia encontram-se clubes espanhóis, italianos e ingleses, nomeadamente: AC Milan; Arsenal; Atlético de Madrid; Chelsea; Barcelona; ​​Inter de Milão; Juventus; Liverpool; Manchester City; Manchester United; Real Madrid e Tottenham Hotspur. São os autoproclamados “clubes fundadores”.

A competição ainda está a ser preparada – não se sabendo quando irá começar – mas os clubes fundadores da Superliga europeia preveem que mais três clubes se juntem à competição antes da época inaugural. Os “clubes fundadores” reclamam para si o títulos dos “mais importantes” do futebol europeu, mas neste lote não constam o gigante germânico Bayern de Munique ou milionário francês Paris Saint-Germain.

A organização da prova será presidida pelo presidente do Real Madrid, Florentino Perez

Dos “clubes fundadores”, refira-se, que Manchester United e Juventus anunciaram, esta segunda-feira, que saíram da Associação Europeia de Clubes (vulgo ECA, sigla inglesa). A ECA é um organismo formal representativo de 220 clubes europeus. A saída destes clubes ocorre depois da ECA se posicionar contra a criação da Superliga. A ECA era dirigida por Andrea Agnelli, presidente da Juventus. Já Ed Woodward, presidente do emblema inglês, já anunciou que vai abandonar o cargo de conselheiro da UEFA.

De acordo com a TVI, entre os clubes portugueses, o FC Porto garantiu esta segunda-feira ter recebido  alguns contactos informais para integrar a Superliga Europeia de futebol, mas não deu grande atenção ao assunto. O clube da cidade Invicta mantém-se comprometido com as provas da UEFA.

Por que razão estes clubes quiseram criar uma competição continental à margem da UEFA?
Dinheiro. Os “clubes fundadores” reclamam que a pandemia da Covid-19 veio “acelerar a instabilidade do atual modelo económico do futebol europeu”. Nesse sentido, têm o objetivo de “criar um formato para os melhores clubes e jogadores competirem regularmente”.

“A pandemia mostrou que uma visão estratégica e uma abordagem comercial sustentável são necessárias para aumentar o valor e o apoio em benefício de toda a pirâmide do futebol europeu”, sublinham os 12 clubes promotores da Superliga.

“O novo torneio anual vai gerar um crescimento económico significativamente maior e vai apoiar o futebol europeu através de um compromisso de longo prazo com pagamentos de solidariedade ilimitados, que crescerão de acordo com as receitas da liga”, referem os clubes.

Os promotores da nova competição alegam que os pagamentos de solidariedade “serão substancialmente mais elevados do que os gerados” hoje em dia pela Liga dos Campeões, devendo superar a barreira dos dez mil milhões de euros.

“Além disso, a competição será construída sobre uma base financeira sustentável com todos os clubes fundadores a partilhar os custos da prova. Em troca, os clubes fundadores vão receber 3,5 mil milhões de euros para apoiar, exclusivamente, planos de investimento em infraestrutura e para compensar o impacto da pandemia da Covid-19”, lê-se no comunicado.

Qual será o formato desta Superliga?
A nova competição terá pelo menos 20 clubes em prova, entre os 15 “clubes fundadores” e cinco vencedores de eliminatórias, que se qualificarão para essas eliminatórias consoante a classificação nos respetivos campeonatos nacionais. A prova dividir-se-á em dois grupos de dez, duas voltas. Estima-se que a fase de grupos se inicie, habitualmente, em agosto.

Após a fase de grupos, os três primeiros classificados qualificam-se de cada grupo carimbam passagem direta para os quartos de final. Já as equipas que ficarem em quarto e quinto lugar terão de disputar a qualificação à próxima fase num play-off de duas mãos. Daí em diante, a Superliga decorrerá com ‘quartos’ e ‘meias’, em formato “mata-mata” até à final da competição. Espera-se que a final da prova ocorra no mês de maio, num único jogo em estádio “neutro”.

Os jogos desta prova serão disputados a meio semana, entre as jornadas dos campeonatos nacionais, “preservando o habitual calendário de jogos nacionais”.

Como é financiada a Superliga?
Apesar dos clubes fundadores garantirem que vão partilhar os custos, esta prova continental de clubes precisará de um suporte financeiro robusto. Por isso, de acordo com a SkySports, o projeto terá sido bem recebido pelo banco de investimento norte-americano JP Morgan, que poderá financiar a superliga com cinco mil milhões de dólares.

Competição anunciada. E agora?
Agora, os “clubes fundadores” esperam conseguir convencer a UEFA e a FIFA de que a Superliga vale a pena. O comunicado dos promotores salienta que se esperam “conversações com a UEFA e a FIFA para trabalhar em parceria” na construção da nova prova, procurando “os melhores resultados” para o futebol. Mas o diálogo não será fácil.

Como foram as reações ao anúncio desta nova prova europeia, à margem dos poderes da UEFA?
Há muitas décadas que nenhuma prova à escala continental, na Europa, passa sem o crivo do organismo máximo do futebol europeu. Tal só tem sido permitido em ambiente de pré-época, em jogos amigáveis. É que sendo o órgão tutelar do futebol no Velho Continente, a UEFA não prescinde do seu papel de regulador das competições europeias. Por isso a reação sobre a Superliga não foi a melhor.

Logo no domingo, a UEFA reiterou que excluirá todos os clubes que integrem a Superliga europeia de futebol. Além disso, fez saber que tomará “todas as medidas necessárias, a nível judicial e desportivo” para inviabilizar a criação de um “projeto cínico”.

Ao lado do organismo liderado por Aleksander Ceferín estão as federações de Inglaterra, Espanha e Itália, bem como das ligas de futebol destes três países, para combater a criação da Superliga europeia, depois de “ter tomado conhecimento que alguns clubes ingleses, espanhóis e italianos poderão estar a planear” o seu desenvolvimento.

Em janeiro, a FIFA já tinha avisado, num comunicado conjunto com as confederações do futebol mundial, que impediria de participar nas suas competições qualquer clube ou jogador que integrasse uma eventual competição de elite, disputada por convite por alguns dos maiores clubes europeus.

A contestação tem sido tal, que o comissário com a pasta da Promoção do Modo de Vida Europeu, Margaritis Schinas, esta segunda-feira que a União Europeia se opõe à Superliga europeia de futebol.

No twitter, o Schinas escreveu: “Devemos defender um modelo europeu de desporto baseado em valores, baseado na diversidade e na inclusão”.

Sublinhando que “não há margem” para que o modelo europeu de desporto “seja reservado aos poucos clubes ricos e poderosos”, este comissário europeu afirmou também que estes clubes “querem cortar as ligações com tudo aquilo que as associações representam”, referindo-se às “ligas nacionais [de futebol], promoções e despromoções, e apoio ao futebol amador”.

Em Portugal, o presidente da Liga de Clubes, Pedro Proença, escreveu na sua conta de Facebook que a criação da Superliga europeia “colocaria em causa os alicerces fundamentais” do futebol, servindo só  “elite egoísta que pretende atrofiar o crescimento da modalidade”.

 

 

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