Durante séculos, a humanidade procurou domar a natureza para assegurar a sua sobrevivência, com impactos muito limitados no equilíbrio ecológico do planeta. Com a Revolução Industrial, acelerou-se dramaticamente a capacidade humana de extração intensiva da natureza, assente numa visão desta maioritariamente como fonte de recursos: terra para explorar, rios para represar ou desviar, florestas para desflorestar ou eliminar, pântanos para drenar.

Hoje, face aos impactos económicos da crise climática, da escassez hídrica e da perda de biodiversidade, é urgente resgatar o equilíbrio ecológico que, em tempos, orientou a relação entre humanidade e natureza.

O restauro ecológico – recuperar ecossistemas e espécies degradados ou em declínio – oferece soluções concretas e mensuráveis. De acordo com o relatório “Restaurer la nature: un investissement qui rapporte”, promovido pela WWF Bélgica, cada euro investido em projetos de restauro pode gerar entre 8 e 51 euros em benefícios socioeconómicos neste país, um valor ainda mais vantajoso face a cálculos europeus que já apontavam para um máximo de 38 euros em benefícios por cada euro investido.

A lógica é simples. Um rio limpo reduz os custos de tratamento da água e garante abastecimento para agricultura, indústria e outras áreas fundamentais. Solos restaurados e cobertos por vegetação nativa armazenam carbono, retêm água, melhoram a produtividade agrícola e reduzem a necessidade de fertilizantes. Zonas húmidas bem conservadas reduzem os impactos das inundações e contribuem para a regulação do clima local.

Tudo isto representa poupanças diretas e indiretas para o Estado, empresas e famílias. Perder estes serviços – os benefícios que a natureza proporciona: alimentos, água, regulação do clima, polinização, matérias-primas, cultura e bem-estar – é como deixar estradas degradarem-se sem manutenção. Restaurá-los é reforçar a infraestrutura natural do país – aquela que suporta silenciosamente a economia, e a saúde pública.

Com a aprovação da nova Lei do Restauro da Natureza da UE, Portugal tem a oportunidade de liderar este movimento. O nosso país pode captar fundos europeus e privados se souber valorizar os seus recursos naturais através de planos de restauro credíveis e bem estruturados. Na Bélgica, por exemplo, projetos financiados pela UE conseguiram atrair cofinanciamento de fundações e demonstraram benefícios económicos concretos: criação de postos de trabalho locais, valorização imobiliária e poupanças superiores a 12 milhões de euros em custos de saúde pública.

Este é um claro convite ao setor financeiro e às empresas. Ao incorporarem os riscos ambientais nos seus modelos de decisão e ao investirem em soluções baseadas na natureza, podem reduzir custos presentes e futuros e criar novas oportunidades de negócio. O mercado está a mudar – e quem investir cedo e da forma certa estará à frente. E a pergunta que devemos fazer não é mesmo “quanto custa restaurar?”, mas sim “quanto custa não restaurar?” A degradação ambiental tem um preço – em saúde, produtividade, segurança e qualidade de vida. E esse preço recai sempre sobre alguém: o contribuinte, o agricultor, a autarquia, a geração seguinte.

Portugal tem conhecimento técnico, talento e experiência para se tornar uma referência europeia em restauro da natureza. Agora, podemos juntar ambição política e visão estratégica para integrar esta abordagem nos grandes instrumentos de planeamento económico. Se quisermos um país mais resiliente, competitivo e justo, temos de começar por onde tudo começa: a natureza. Poucos investimentos terão um retorno tão seguro.