A cimeira COP26, reunida em Glasgow e as manifestações de rua que a seu pretexto ocorreram revelaram a crescente consciência do impacte das actividades humanas no ecossistema. Mas transpareceram também a persistência de erros na abordagem do tema, herdados do activismo ambiental de génese anti-capitalista, que absurdamente persistem.

Desde logo, o tremendismo do discurso, que há décadas anuncia a iminência do dia do Juízo climático, que contagiou os próprios governantes. As arengas cataclísmicas repetidas pelos intervenientes na cimeira, com António Guterres a assumir o papel de profeta-mor da desgraça, põem em causa a eficácia do combate às alterações climáticas; ao invés de uma abordagem construtiva e pedagógica, o tema é apresentado em tom acentuadamente pessimista, causador de desesperança, inimiga da acção.

Por outro lado, entre os activistas ambientais, prevalecem os tiques de extrema-esquerda, ao imputarem ao grande capital e a um poder político subserviente aos senhores do dinheiro a responsabilidade exclusiva do estado a que a degradação ambiental chegou, omitindo, deliberadamente, a responsabilidade individual no combate às alterações climáticas, argumento que não serve à agenda política de alguns e põe em causa a popularidade da causa.

Com efeito, sem uma mudança de hábitos de vida, o combate às alterações climáticas não será viável. E esta mudança não depende dos governos e da grande indústria, mas de cada um.

Quantos de nós estaremos verdadeiramente dispostos a viajar menos de avião, a privilegiar o uso de transportes públicos, fazendo uso da viatura particular apenas quando estritamente necessário? Quantos de nós decidiremos comprar menos telemóveis, computadores e tablets?

Exemplo recente da falta de empenho cidadão foi a reacção popular ao aumento dos preços dos combustíveis – os mesmos combustíveis que tão danosos são para a qualidade do ar –, que originou um clamor popular porque, no fundo, todos queremos continuar a usar o automóvel gastando pouco dinheiro.

O empenho retórico nada custa e dá-nos paz de consciência e popularidade nas redes sociais (o alfa e o ómega da existência de muita gente), mas não é com palavras que o ar fica mais limpo ou os glaciares deixam de derreter; é com actos concretos, mas que muitos não estão dispostos a praticar. De acordo com uma recente sondagem, somente 44% dos alemães e 37% dos holandeses se mostram disponíveis para mudar de hábitos em defesa do ambiente.

O esforço só pode, pois, ser de todos, do topo à base. De pouco serve acusar os culpados do costume se não assumirmos a nossa quota parte. A cada um – governos, empresas e cidadãos – se deve exigir a parcela do esforço que lhe cabe. Não esqueçamos que sempre que apontamos um dedo a alguém, estamos a apontar três dedos para nós.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.