Este ano marca o fim de uma década de mercados financeiros que merece uma revisão. Um decénio que atingiu máximos e mínimos históricos e colocou em causa algumas das crenças e abordagens que os investidores davam como certas. Vamos averiguar algumas das tendências relativamente ao mercado acionista e as suas extensões.

Admitindo o índice bolsista S&P 500 como proxy para o mercado de ações, constata-se que o período 2010-2019 foi a quarta melhor década de sempre, atrás dos anos 50, 80 e 90, com um crescimento composto de 252,96%. O ano 2019 teve a maior rendibilidade da década com 32,2%, muito próximo de 2013 com 32,1%. Já as obrigações do tesouro americanas, a dez anos, registaram a segunda menor rendibilidade de sempre com 5,25%, atrás dos anos 40 com 4,89%. Superaram o mercado acionista em 2011 e em 2018 por 13,9% e 4,2%, respetivamente.

Deu-se um bom seguimento à década de 2000-2009, manchada por duas grandes recessões. O que se segue? É difícil dizer ao certo, no entanto estamos em máximos históricos e a probabilidade de subida é muito mais baixa que a probabilidade de descida. Além disso, os mercados são constituídos por ciclos de boom e bust e é difícil prever o ponto de viragem, mas tendo em conta o extenso historial de crescimento, determina-se que estará para breve.

Uma característica central desta década foi a rápida progressão tecnológica – digo isto a nível de inovação, bem como a nível de impacto no nosso quotidiano. Graças à tecnologia abriram-se novas oportunidades para solucionar e satisfazer as nossas necessidades, que de escassas têm pouco.

O peso do setor tecnológico é de 20% no total do S&P 500 e passaria a marca dos 30% se a Google e o Facebook não tivessem sido permutados para outro setor. Temos ainda a indústria dos semicondutores – os fabricantes de chips cruciais ao funcionamento dos vários gadgets que utilizamos diariamente – que acumulou um crescimento de 377% na última década. Aliada às grandes expetativas de crescimento, a filosofia de investimento growth prevaleceu face ao estilo value. Embora semelhante ao ocorrido em finais dos anos de 90, essas expetativas mostraram agora ter mais fundamento.

As empresas FAANG (Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google) passam a pesar cerca de 14% do S&P 500, com uma capitalização conjunta de 3,8 biliões de dólares. Um chavão comum que as rodeia é o Big Data. Como têm milhões de utilizadores, a recolha e análise de dados é utilizada para aprimorar os seus produtos e serviços – a Amazon estuda os nossos hábitos de consumo ao ponto de saber o que queremos antes de nós. Isto garante-lhes um enorme poder, especialmente quando esses dados são exclusivos, mas levanta questões éticas de privacidade. Por esse motivo, algumas das constituintes da FAANG foram chamadas a responder perante o congresso dos EUA.

Concordo que possa ser necessária uma regulamentação mais apertada em torno desta questão, mas importa que seja feita por indivíduos com competência na matéria, ao contrário do que acontece com muitos membros do Congresso americano.