Em 1974, o Banco de Portugal tinha 866 toneladas de ouro, que baixaram para 382 toneladas em 2006, tendo-se mantido estáveis desde então.

De acordo com o Banco de Portugal, “Desde 1947 procedeu-se a três revalorizações das reservas de ouro com efeitos, respectivamente, a partir de Julho de 1962, Janeiro de 1980 e Maio de 1988. Em 1962 a diferença resultante da alteração do valor do ouro foi utilizada para saldar a dívida do Estado para com o Banco de Portugal. Em 1980 e em 1988, a mais-valia resultante da alteração da cotação do ouro foi utilizada em cerca de 75 por cento no pagamento de dívida pública e o remanescente foi aplicado num fundo especial de reserva.”

No 1º semestre de 2025, o preço médio do ouro foi de 90 euros por grama, mas o preço médio de 1988 foi de (o equivalente a) 11,3 euros por grama, pelo que a cotação é hoje oito vezes superior à última revalorização do ouro, para se ter uma ideia do desfasamento actual.

Com uma taxa de inflação de 2% ao ano, o nível de preços duplica a cada 35 anos, pelo que terá sempre que haver revalorizações periódicas.

Dever-se-ia criar uma regra de revalorização do ouro para deixar de haver esta abordagem casuística, que até pode ser mal interpretada. Poder-se-ia discutir isto mesmo ao nível do BCE, porque há vários países da zona euro com avultadas reservas de ouro, que poderiam ver esta abordagem com bons olhos, em especial a França e a Itália.

Sugiro uma concretização específica desta regra, apenas para ilustrar como poderia ser feito, sublinhando que o mais importante é acordar no princípio geral de haver uma regra.

O ouro do banco central poderia ser revalorizado com base no valor médio anual mais baixo dos dez anos anteriores. Aplicando esta regra, verificamos que, no decénio 2015-2024, a menor média foi registada em 2015, e foi de 33,6 euros por grama, pouco mais de um terço do valor actual, o que sugere que não seria uma temeridade fazê-lo.

O resultado da valorização deveria ser entregue na totalidade ao Estado, como em 1962, para diminuir a dívida pública.

Usando os valores referidos, estamos a falar num valor inicial de cerca 10 mil milhões de euros, a que se poderiam seguir novos montantes nos anos seguintes, mais significativos a partir de 2029. Em termos acumulados, poderiam vir a representar 5% do PIB, o que não parece muito, mas é importante recordar que seria obtidos sem “austeridade”.

Poder-se-á argumentar que a actual subida do preço do ouro é muito conjuntural, mas é duvidoso que assim seja, porque parece resultar, em parte, de compras de vários bancos centrais, com vontade de diversificar face ao dólar.

Não faz muito sentido ter as reservas numa moeda hegemónica, como o dólar, porque a essência do carácter das reservas é a segurança, que é mais bem servida com a diversificação.