Pela primeira vez neste ciclo de subida das taxas de juro, o mercado está a prever que as Euribor poderão chegar a 4%, o que pode suceder no verão. A justificação para esta revisão deve-se essencialmente à perceção de que a inflação continuará elevada por mais tempo, forçando o Banco Central Europeu (BCE) a agir.
Este aumento das taxas de juro em toda a curva de rendimentos não teve origem na zona euro, mas nos EUA. Os dados da inflação naquele país obrigaram o mercado a mudar de opinião sobre a política monetária da Reserva Federal dos EUA (Fed).
Até há cerca de um mês, esperava-se que a Fed interrompesse o ciclo de aperto monetário neste semestre e que poderia haver cortes nas taxas ainda este ano. Agora, essa expectativa inverteu-se, o que tem afetado as taxas de juro deste lado do Atlântico. Por exemplo, os rendimentos das obrigações alemãs a dez anos atingiram esta semana níveis acima de 2,70%, o que não acontecia desde agosto de 2011, e isso é relevante.
No entanto, devemos sempre ter cautela ao olhar para as projeções dos mercados.
Por um lado, as análises históricas mostram que as chamadas “curvas forward” raramente acertam no que realmente acontece mais tarde. Por outro lado, o mercado que hoje prevê que a Euribor a seis meses esteja acima de 4% em setembro é o mesmo que em meados de janeiro previa 3,35% ou 2,4% em setembro passado. Portanto, as coisas mudam.
Por outro lado ainda, a base desta subida dos juros futuros está fundamentada, como já foi referido, na perspetiva de inflação elevada por muito tempo. Há sinais de que a inflação poderá recuar este ano, nomeadamente devido à moderação dos preços da energia, à baixa de cotações em muitas matérias-primas e subsidiárias e ao abrandamento económico em curso.
Finalmente, parte da inflação mais recente é explicada pelas atualizações de preços de “ano novo”, com muitas empresas a repassarem para os consumidores mais do que os aumentos de custos que enfrentam, e isso não deverá ser um fenómeno recorrente.