Nestes últimos tempos fiquei genuinamente surpreendido com a maneira como foi atirado aos bichos – que nem leões eram – um desgraçado que, segundo alguns, andava a pedi-las. O que me surpreendeu foi a facilidade com que o seu partido alijou carga, dando o dito por não dito – entre os que lhe atiram pedras há quem o tenha ido visitar quando foi preso.
Mas, mais surpreendente ainda, é como a dita personagem pôde fazer aquilo de que é acusado sem que os que com ele privavam e trabalhavam não tenham dado conta de nada, com tanto relatório, auditoria, regulador… Faz-me admitir que entre os políticos há o que nunca pensei que houvesse: ingénuos. Ou então o ingénuo sou eu. Este curto texto não vai ser sobre esta (pouca?) vergonha, mas sobre o que importa: citando Vladimir Ilich Ulianov, que fazer?
Os otimistas acreditam que é importante restaurar a moral na política. É impossível restaurar o que não existe. As duas só coexistem nas páginas do New Statesman, e mesmo assim é assustador quando lemos: “the case for consequentialism in political life rests on the claim that it is unrealistic and naïve to think that good ends can be achieved without resorting to dubious means. Politicians who keep their hands clean will sometimes cause the evil of the status quo to continue or worse evil to result”. Estamos a viver Sísifo, no seu pior.
Não, o caminho é outro. Um bom governo é o que é constituído por pessoas de reconhecida competência nas suas áreas de trabalho, não por licenciados da Universidade das Juventudes Partidárias. Claro que a proximidade política pode facilitar a escolha, mas nunca se deveria chegar ao ponto de ter alguém menos capaz como ministro, para bem dos governados e dos bons governantes. Claro que seria preciso acautelar os conflitos de interesses – no fim de contas, ninguém é ministro toda a vida. Assim, há que escolher verdadeiros peritos, mas dar-lhes pastas diferentes das suas áreas de excelência.
Pode parecer estranho, mas faz sentido: não têm resistência à mudança, não vão defender interesses instalados, e são bons, que é o que importa, pois estão lá para coordenar direções gerais e para decidir, que é naquilo que excelam. Têm aquele instinto inato de perceber rapidamente o problema, vislumbrar num instante as vantagens e desvantagens de cada solução e o killer instinct para guiar a ação.
Isto pode parecer original, mas não é, já foi feito por um primeiro-ministro deste país, que pôs um homem da energia nas obras públicas, um da segurança social nas finanças, um da investigação e do mundo dos tribunais na segurança social, etc. Não deu certo. Mas dado o circo a que estamos a assistir, não sei se um destes dias não valia a pena fazer nova tentativa.