Não é frequente uma associação profissional ou setorial ter uma causa que a maior parte vê como justa convocar uma manifestação, ter uma adesão maciça à mesma e, no final do dia, ir para casa com terríveis danos de imagem, sem a simpatia da opinião pública e com o Governo menos pressionado a acolher as suas reivindicações. Foi o que sucedeu na semana passada com a manifestação de taxistas contra a Uber. Se os representantes da classe consideram que facilitar a criação de condições para a vandalização de veículos da Uber em direto nas televisões e ter os taxistas a dizer o que lhes vai na alma aos microfones da CMTV ajudam as suas reivindicações, deveriam ser melhor aconselhados.

É óbvio que o surgimento de plataformas digitais como a Uber coloca desafios muito grandes à indústria dos táxis. Não é só em Portugal. Em todo o lado onde há Uber é assim. No entanto, os taxistas deveriam perceber que não vale a pena continuar a lutar pela proibição do serviço. A Uber prospera porque é melhor, mais cómoda, mais transparente e mais barata do que os táxis. O vazio regulatório em que nasceu foi fruto do seu caráter inovador, mas rapidamente tem vindo a ser preenchido e estabilizado. Nenhum governo de um país ocidental proibiria hoje um serviço que traz manifestas vantagens aos consumidores e que até contribui para tornar a economia mais competitiva. Não vale pois a pena insistir que o serviço é ilegal e fazer disso o cavalo de batalha.

É, porém, justo que a regulação promova um patamar de igualdade de direitos e de obrigações entre táxis e Uber (e outras plataformas semelhantes). Nessa parte, as reivindicações dos taxistas são justas e é aí que os seus esforços comuns devem concentrar-se. No entanto, estes esforços deveriam concentrar-se também em perceber e em fazer perceber que o mundo mudou, e que nada voltará a ser como dantes. E que o único caminho para sobreviver à mudança é investir, inovar e melhorar.

Sem ser especialista do setor, diria que é óbvio que, numa sociedade crescentemente informatizada e em rede, essa mudança tem que passar por uma aproximação do serviço de táxi à tecnologia – colocando-o mais perto da oferta das novas plataformas digitais, como a Uber –, pela reciclagem da frota dos táxis, promovendo a transição para uma alternativa mais ecológica e simultaneamente mais barata, pela promoção da transparência e da segurança do serviço e por um investimento na cultura cívica dos profissionais do setor. Tudo com o objetivo de conquistar a única coisa que lhe pode garantir a sobrevivência: a preferência do utilizador.

A Uber elevou a fasquia e, sem melhorar dramaticamente a experiência do utilizador, o tradicional serviço de táxi está irremediavelmente condenado. Por isso, se os representantes da classe dos táxis permitem o conselho, a concorrência enfrenta-se concorrendo. E, neste jogo, por norma, ganham os melhores. Em vez de vandalizar, agredir e bloquear, invistam, inovem e melhorem. Seguramente que assim todos, Uber, táxis, mas sobretudo os consumidores, sairão a ganhar.