Entre as diversas questões que a revolução digital da economia e da sociedade tem vindo a colocar, há uma vai ganhando cada vez maior destaque: como será o mercado de trabalho? Continuará a haver (muito) espaço para o trabalho humano? A questão é legítima e os receios são óbvios. A evolução das máquinas vai levar a que cada vez mais tarefas desempenhadas por humanos, que hoje justificam postos de trabalho, sejam realizadas por máquinas. O desenvolvimento da inteligência artificial e da aprendizagem das máquinas tornam o tema cada vez mais relevante.

Em momentos como este importa olhar para o passado antes de tentar antecipar o futuro. Na verdade, não é a primeira vez que a tecnologia ameaça eliminar postos de trabalho. Se prestarmos atenção ao que nos mostra a história, muitas vezes as grandes evoluções tecnológicas provocaram fortes transformações no mercado de trabalho, mas, feito o balanço, não eliminaram necessariamente emprego.

O economista norte-americano James Bessen lembra que após a introdução e a expansão da rede ATM, que tornou redundantes muitos caixas dos bancos, o nível de emprego no sector bancário cresceu, tendo os postos de trabalho que deram lugar às máquinas sido substituídos por outros. Também o prémio Nobel da Economia Jean Tirole recorda que embora a proporção de trabalhadores no sector agrícola norte-americano tenha passado, no espaço de um século, de 41% para apenas 2% do total, os Estados Unidos da América têm uma taxa de desemprego inferior a 5%.

A questão é se desta vez é diferente. Historicamente, os postos de trabalho mais afetados pelas mudanças tecnológicas foram os menos qualificados. Para os computadores é mais fácil a execução de tarefas que exigem raciocínio dedutivo (aplicar regras a factos), como as realizadas pelos ATM, mas é menos fácil o desempenho de funções que requerem raciocínio indutivo (criar regras a partir de factos). Mas será que é apenas uma questão de tempo até lá chegarmos?

Ninguém sabe ao certo o que sucederá. Sabemos contudo que embora não possamos competir com as máquinas no armazenamento de informação e na velocidade dos raciocínios dedutivos, as máquinas não podem competir connosco na flexibilidade de raciocínio e de adaptação a circunstâncias não previstas. Nem na inteligência emocional. Nem no caráter, no instinto ou na subjetividade que levam a que muitos se distingam nos seus campos.

A tecnologia não vai eliminar o trabalho. Vai transformá-lo. Muitos dos empregos de amanhã ainda não existem. O verdadeiro desafio é como preparar um amanhã que não conhecemos. Os economistas Frank Levy (MIT) e Murnane (Harvard) preveem que no futuro terá sucesso quem tiver o conhecimento abstrato para se adaptar ao seu ambiente. Os que têm apenas conhecimento básico para a realização de tarefas rotineiras são os que têm um maior risco de virem a ser substituídos por computadores.

O futuro está mais perto do que imagina. Prepare-se! Mas certifique-se de que se prepara da maneira certa. A viagem tem tudo para ser fascinante.