Uma das participantes foi Isabel Martins, diretora editorial das revistas Vida Rural e Sustentável, segundo a qual, “a transformação [do setor] foi incrível, muito por causa da procura da eficiência, de percebermos que tínhamos de ser mais produtivos para podermos ser mais rentáveis”. Além disso, na sua perspetiva, “o facto de levarmos algum atraso estrutural fez com que partíssemos de uma base para a sustentabilidade em que os estragos eram menores, e, portanto, conseguimos entrar mais rapidamente em práticas regenerativas”. Segundo a jornalista, a agricultura nacional “capacitou-se muitíssimo, está ao nível do melhor que se faz no mundo”, mas “isto não se sabe”, e chamou a atenção para a falta de divulgação dos avanços que se têm verificado no setor.
Questionada sobre o problema da comunicação, considerou que o “grande desafio é a agricultura pensar que tem de dar as boas notícias”. Nesse sentido, congratulou a intenção da Confederação de Agricultores de Portugal (CAP) de poder vir a participar com entrada de capital num grupo de media com o objetivo de comunicar temas sobre agricultura. “Acho isso extremamente inteligente e importante no momento que vivemos, para se poder mostrar o que de bom fazemos, dar as boas notícias e desmistificar. E isto em contínuo”, reforçou. A intenção da CAP havia sido referida por Luís Mira, secretário-geral da organização, que marcou também presença na mesa-redonda. De acordo com o responsável, em causa está um projeto multimédia com três canais regionais e um canal sobre agricultura, bem como redes sociais e rádio. “É uma situação que já existe noutros países, mas cá ainda não havia”, explicou. Ainda assim, considera que “a compreensão da agricultura se vai fazer pela obsessão que os consumidores têm hoje com a alimentação”, pois “os consumidores vão valorizar os produtos de qualidade”.
“Motivar, liderar, pagar”
Aproveitando a presença no debate de João Coimbra, produtor de milho e responsável pela Quinta da Cholda e pelo projeto online de divulgação Milho Amarelo, o moderador quis saber que decisões terá este produtor – considerado um exemplo de inovação e de liderança no campo – tomado para atingir os resultados que o caracterizam. João Coimbra respondeu e a sua forma disruptiva de estar na atividade ficou evidente. Acredita que o facto de ter sempre encarado a agricultura como “uma forma de ganhar dinheiro e não um hobby” talvez tenha sido da maior importância, já que desde cedo teve de assumir a responsabilidade de “fazer multiplicar o valor daquilo que a família tinha”. Além disso, rapidamente percebeu a importância de “motivar, liderar, pagar melhor”, bem como de “investir em pessoas, apostar tudo na formação, na gestão, na qualidade”, tendo passado a “ser cada vez mais gestor de pessoas do que gestor agrícola”. Por fim, revelou ainda outra característica pouco comum na profissão: “Tenho de ter a equipa sempre inconformada com o que tem. Estou sempre preparado para as crises.”
Questionado pelo moderador quanto às inovações ou modelos de negócio que estão atualmente debaixo do seu radar, João Coimbra deu alguns exemplos, revelando como a necessidade de ser autossuficiente em termos energéticos levou a que, sem planear, desse início a um novo negócio, neste caso, relacionado com a produção de energia. Por outro lado, relatou também como estão apostados em vender os dados que recolhem nos campos há dez anos: “Estamos a tentar criar condições para que esses dados sejam o novo petróleo para outros agricultores.”
Praticar o contrário do que se aprendeu
“Hoje, a realidade é o contrário do que me ensinaram na universidade”, destacou Luís Mira, reforçando que as pessoas da sua geração “têm de ter uma mente muito aberta, como o João Coimbra, para praticarem o contrário do que aprenderam”. Para ilustrar o raciocínio, recordou como “nos últimos 30 anos, as produções foram aumentando com mais adubos e máquinas maiores. Foi assim que a população mundial não passou fome. E hoje, estamos no caminho inverso. Chegamos a um caminho científico em que, se pusermos o solo ao serviço do agricultor, não precisamos de ter essas quantidades de adubos, não precisamos de fazer os trabalhos agrícolas que fazíamos”.
Por outro lado, o dirigente da CAP defende que “as universidades ficaram para trás. Não conseguem acompanhar esta revolução tão grande”. Como tal, considera que “ou a academia se junta aos que vão na frente e consegue trabalhar com eles e encontrar soluções, ou então vão fechando [cursos], como alguns já vão fechar este ano, porque os alunos que saem desses cursos não são úteis”. Em síntese, defende que “há uma necessidade muito grande de a academia se reestruturar e fazer a revolução que a agricultura já fez”.
Este conteúdo foi produzido em parceria com o Santander.
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