“Ricas empresas deveriam enriquecer os seus colaboradores” é uma expressão que pode chocar, mas apenas pretende sensibilizar para o fraco contributo das empresas no enriquecimento das pessoas.

O que queremos para a humanidade, para a sociedade em que estamos inseridos, começa em nós mesmos, na nossa própria atitude. Não podemos querer um Portugal de uma maneira se, nós mesmos, efetivamente cada um de nós, não se comportar exatamente dessa maneira.

É desta perspetiva que vejo o desígnio do mundo empresarial. Melhorar a sociedade porque é exatamente na sociedade que uma empresa tem os seus clientes, e são os seus clientes que lhe conferem a oportunidade de ter sucesso.

Os clientes de uma empresa são pessoas porque acabam por ser as pessoas a consumir o que é produzido. São pessoas da sociedade iguais às que estão a trabalhar na empresa, por isso, se uma empresa quer ter sucesso, deve promover a melhoria da sociedade começando por melhorar o que está dentro de si. Por outras palavras, se uma empresa quer ser forte economicamente, tem de promover o enriquecimento da sociedade começando por fazer enriquecer a parte da sociedade que está dentro de si – os seus colaboradores.

Não faz muito sentido que o enriquecimento material, económico, financeiro, seja apenas para os acionistas da empresa ou quadros de topo. Bem sei que o acionista é quem corre mais riscos mas também é quem lucra mais. É verdade que se surgir o insucesso da viagem empresarial, o acionista é quem mais perde, mas também foi ele quem teve sempre o poder de conduzir essa viagem.

Custa-me imenso ver empresários com manifestos sinais exteriores de riqueza e os colaboradores da sua empresa terem um rendimento anual de sobrevivência. Isso não promove crescimento económico nem ajuda a que as pessoas perspetivem o futuro.
E continuo sem entender como há administradores a ganhar 30, 40 ou 50 vezes mais que o salário médio da própria empresa.

É com este espírito empresarial que queremos fazer crescer a nossa sociedade?
Não me parece que exista uma autoridade moral dos empresários na hora de discutir a falta de mão de obra em Portugal, a política de salários baixos ou a precariedade do vínculo laboral.

Creio mesmo que se não fossem os sindicatos, os empresários atrofiariam a riqueza nacional, como em países do terceiro mundo. Na “hora H”, os empresários olham para o seu umbigo. É da natureza humana, honestamente falando, e salvo raras exceções. No limite, no final do ano, fazem uma festa de Natal, dão uma lembrança aos colaboradores, algumas palmadinhas nas costas, palavras de esperança e, quando muito, um prémio em dinheiro para empoeirar momentaneamente a desilusão.

Acho sim, convictamente, que se desenvolvermos uma cultura empresarial em que todos ganhem, naturalmente nas proporções adequadas ao risco e protagonismo na vida da empresa, as pessoas sentirão motivação pelo trabalho e, acima de tudo, gratidão pela vida. A sociedade fica mais forte, mais saudável.

E, claro, para esta cultura empresarial de partilha de riqueza com os colaboradores, é crucial efetuar um aligeiramento fiscal. É neste tema que reside o forte papel dos empresários. Junto do Governo, exigir, sem medo, sem agendas paralelas, uma reforma fiscal que permita às empresas respirar em termos de IRC e TSU. O Estado tornou-se, confortavelmente, num parasita fiscal e se os empresários nada fizerem, serão cúmplices deste assédio.