Ouvimos esta semana o ministro das Finanças Mário Centeno afirmar que espera que dentro de aproximadamente dois anos estejamos, em termos económicos, ao nível de 2019.
Após termos conseguido o feito de alcançar um excedente orçamental, algo inédito na história da democracia portuguesa, a Covid-19 fará regressar em 2020 o monstro do défice, numa dimensão ainda impossível de quantificar. Portugal terá uma queda do PIB certamente superior àquela que se verificou em 1975, quando a economia nacional deu um trambolhão de 5,1% no rescaldo na revolução de Abril de 1974.
Só um grande otimista poderá pensar que a economia portuguesa e as contas públicas conseguirão recuperar no espaço de dois anos de uma situação de estado vegetativo em que atualmente se encontram, não se podendo, ainda, sequer prever quando será possível retirar-nos do ventilador a que nos encontramos ligados.
Mesmo que a pandemia venha a abrandar a curto prazo, o retomar da atividade económica será necessariamente muito gradual, sendo de esperar que o trauma que vem afetando os portugueses, e não só, condicione a recuperação.
A nível mundial, será incontável o número de empresas que encerrarão, atirando milhões de pessoas para o desemprego, com o peso que daí decorrerá para os sistemas de segurança social dos diferentes países, que terão que pagar subsídios elevadíssimos e verão diminuir drasticamente o valor das contribuições.
O turismo, atualmente uma das indústrias mais importantes no mundo, demorará anos a retomar os seus valores tradicionais, já que muitas pessoas não terão, a curto prazo, disponibilidade financeira para o lazer e outras continuarão dominadas pelo receio de viajar, retraindo-se no momento de decidir as suas férias.
O alojamento local sofreu um abano do qual dificilmente conseguirá recuperar; os hotéis, embora com estruturas mais estáveis, terão muita dificuldade em conseguir praticar os preços que anteriormente tinham estabelecido e perderão uma percentagem muito considerável dos seus clientes; a restauração assistirá ao encerramento de muitas das suas unidades; o mercado imobiliário sofrerá uma contração muito significativa, com muitas das empresas de construção a cessarem a sua atividade.
Pensar que uma situação que terá repercussões em todos os continentes, que afetará todas as economias a nível internacional, que determinará a contração da atividade económica global, se resolverá em apenas dois anos revela um otimismo exacerbado dificilmente compaginável com a situação que atravessamos.
No final da pandemia, seja qual for o exato momento em que tal acontecerá, estaremos mergulhados numa profunda recessão internacional, e mesmo com os imensos estímulos económicos que as lideranças das maiores potências mundiais desenharem dificilmente conseguiremos sair da situação comatosa em que nos encontramos no curto prazo.
Com o desemprego a atingir valores até há pouco tempo inimagináveis, os empregadores terão tendência para renegociar as condições salariais dos trabalhadores, procurando fazê-los aceitar reduções das suas retribuições, o que conduzirá a uma agudização dos conflitos sociais e a que os partidos que fazem do populismo a sua bandeira recolham benefícios acrescidos.
Por incrível que possa parecer, os pobres ficarão mais pobres e os ricos apenas ficarão transitoriamente um pouco menos ricos, para, rapidamente, voltar a cavar-se, ainda mais, o fosso existente entre as classes mais abastadas e as menos favorecidas.
Como sempre acontece nas grandes crises, são os menos preparados que acabam por pagar a maior parte da fatura, não se podendo, pois, acreditar que o vírus é, como alguns teimaram em afirmar, socialmente justo, ao afetar, de igual forma, ricos e pobres.
Serão estes últimos que, uma vez mais, como a História nos ensina, suportarão o fardo das mudanças que a pandemia nos fez conhecer num século onde o conhecimento e a tecnologia não têm conseguido dar uma resposta atempada aos dilemas resultantes da atuação de um conjunto de estruturas submicroscópicas que fez com que as populações ficassem confinadas em suas casas e atirou para a valeta a economia mundial.