Já sabemos que o PSD não é propriamente conhecido por ser um partido em que as palavras “coesão” e “união” se apliquem como regra. É provavelmente o partido menos unido e coeso do sistema português e é também isso que faz dele o mais interessante e diversificado da nossa democracia. Portanto, não são de espantar os apupos a Elina Fraga, os desabafos indignados de Paula Teixeira da Cruz, o já evidente núcleo de oposição ao novo líder e a pré-candidatura à Presidência de Luís Montenegro. Isso é até um sinal de saúde do PSD.

No entanto, se há coisa que não se pode acusar Rui Rio é de incoerência com o estilo e programa com que venceu as eleições diretas no PSD. Rio está e sempre esteve à vista de todos. Foi claro e disse ao que vinha, com três características essenciais da sua linha política: recentrar do partido na social-democracia; disponibilidade para negociar consensos e viabilizar governos mesmo que não ganhe eleições; falta de complacência com uma Justiça que não respeite o Estado de Direito e os direitos fundamentais das pessoas.

Face ao que se passou no congresso e ao historial que se conhece de Rio, tudo indica que levará a sério estes compromissos. Isso, obviamente, não significa que ganhe eleições em 2019, mas esperemos que signifique um renascimento de alguma identidade do PSD. Até porque, com a viragem à esquerda do PS, há todo um “centrão” de eleitores para reconquistar que, apesar de constatarem a melhoria económica do país, não se reveem num Governo apoiado pela extrema- esquerda e refém de várias corporações da administração pública. É um caminho difícil para o PSD, mas é um caminho possível. Talvez o único dada a história recente e contexto atual.

Por muito que os indefetíveis passistas tentem fazer do ex-líder um salvador da pátria, a verdade é que, depois da salvação comandada pela troika e do trauma do “golpe” parlamentar das esquerdas, não se viu uma única ideia do PSD capaz de mobilizar os eleitores que não votem por “clubite” partidária. O partido está centrado nas suas bases internas e longe da sociedade civil, perdeu importância autárquica – o seu ADN histórico –, quase desapareceu na capital e assumiu um estilo de oposição cega, amuada e destrutiva, com fraco sentido de Estado. O resultado está à vista e foi contra esse estilo que a maioria dos militantes votou ao eleger Rui Rio.

A nova Direção do PSD terá muitas armadilhas no seu caminho. As habituais internas e outras externas que não apreciam o seu modo pouco dado ao politicamente correto. Para já, é bom saber que o parlamento vai deixar de ter o pseudo liberalismo “boçal” de Carlos Abreu Amorim e a bancada parlamentar do partido liderada por um jovem da “cantera jotista” que não se importa de assumir que vota contra Orçamentos do Estado vários meses antes de os sequer conhecer. É também saudável verificar-se que o “justiceirismo” de Paula Teixeira da Cruz (que, aparentemente, reduz o conceito de Justiça à punição) saiu com Passos. Goste-se ou não, as escolhas de Rio não são uma traição. São mudança. E foi nisso que a maioria dos militantes do PSD votou. O tempo dirá se essa mudança fará também com que outros tantos portugueses regressem ao PSD.