Depois da vitória, totalmente inesperada, que o conduziu ao início de três mandatos à frente da Câmara Municipal do Porto e de um devaneio com o palácio de Belém como cenário, Rui Rio chegou a Presidente do PSD. Um partido que conhece bem, graças aos cargos já desempenhados.
Um conhecimento patente no discurso da vitória quando fez questão de chamar à colação aqueles que estão no partido em nome de interesses individuais. Uma mensagem sem alusão a nomes, mas na qual não é difícil adivinhar o(s) destinatário(s).
O reafirmar da afirmação de que esses militantes não demorariam a ser postos na ordem. Um aviso a lembrar o célebre “habituem-se” socialista. Com a agravante de, no caso de Rio, os destinatários serem internos. Algo que dificilmente jogará a favor da unidade de um partido em que há militantes que valem mais do que o voto individual a que têm direito.
Por agora, os 54% alcançados garantem a Rio o direito a sonhar. Um sonho que, para além de comedido, não poderá ser demorado.
Comedido porque o sucesso orçamental do Ronaldo do Ecofin constitui uma almofada de segurança para o Governo de António Costa. Os valores alcançados e o apoio da esquerda populista permitem alimentar a ilusão de que tudo – ou, pelo menos, quase tudo – vai bem no reino de Marcelo.
Quanto ao segundo aspeto, o discurso não foi suficientemente rápido. Deixar para fevereiro o início do combate contra a frente de esquerda representa um mês de desperdício. Com a agravante de o tempo não perdoar que o percam.
Trata-se de mais um sinal dos indícios deixados durante uma campanha destinada, única ou prioritariamente, a conquistar o partido. Ora, como é sabido, o líder do PSD depende dos resultados eleitorais das europeias e das legislativas para se manter no cargo.
O ano de 2019 está já ao virar da esquina, apesar de 2018 ainda ir no primeiro mês. Rio sabe que não tem assento no Parlamento. Por mais esforçada que seja a ação do seu líder parlamentar, não deixará de ser uma representação. Uma espécie de his master’s voice. Sem ofensa, obviamente. Uma realidade que irá cobrar um preço elevado em termos de mediatismo do líder.
No Porto, a vitória desacompanhada de um verdadeiro programa obrigou Rio a fechar-se no gabinete com o núcleo central da sua equipa. Um trabalho árduo, mas que deu frutos. As duas reeleições como prova.
Só que a diferença que vai da administração da segunda maior câmara do país para São Bento é maior do que aquela que separa fisicamente Lisboa e o Porto. Rui Rio vai necessitar de inventar autoestradas – o novo nome das sinergias – que lhe permitam ir além do sucesso financeiro ‘geringoncial’.
Num país tradicionalmente habituado a pensar com os bolsos, há que acautelar essa realidade e ousar ir mais além. Entrar em campos onde, até agora, as ideias de Rio não têm primado pela abundância ou pela assertividade.
Na festa pouco efusiva que comemorou a vitória fez-se ouvir a melodia que acompanhou a campanha: “Nós somos um Rio que não vai parar”. Por esclarecer está a questão que se prende com o local onde Rio irá desaguar.