As eleições alemãs são motivo de preocupação, apesar de haver quem se congratule com elas. Em termos gerais, a extrema-direita (AfD) ganhou as eleições na Turíngia e ficou em segundo lugar na Saxónia, próxima dos cristãos-democratas da CDU. Os partidos da coligação que governa o país, liderada pelos sociais-democratas do SPD, tiveram na Turíngia pouco mais de 10% dos votos e na Saxónia menos de 15%.

Estes resultados devem ser postos em perspetiva. Na Turíngia a AfD tinha ficado em segundo nas eleições de 2019, atrás do Die Linke (A Esquerda) que, entretanto, se cindiu em dois. A AfD conseguiu 32,8% dos votos e 32 deputados, enquanto BSW e Die Linke juntos conseguiram 28,9% e 27 deputados – menos, mas perto.

A CDU melhorou e tem mais 2 deputados, num total de 25. O SPD perde 2 deputados, para 6, e os verdes ficam fora do Parlamento. Na Saxónia, a CDU reduz marginalmente a sua percentagem de votos, mas com 41 deputados perde 4, e a AfD melhora 3 pontos, para 30,6%, e fica com 40, mais 2. O BSW tem 15 deputados, mas a Die Linke perde 8 e fica com 6; o SPD mantém os 10 deputados. As diferenças quantitativas não são grandes; as qualitativas sim.

Em primeiro lugar, e amplamente destacado, pela primeira vez desde a Guerra a extrema-direita ganha eleições estaduais. As consequências práticas são reduzidas, pois os outros partidos traçaram um cordão sanitário à AfD, que não participará no governo estadual apesar de representar um terço dos votantes; mas o sinal dado é forte: Hitler teve a sua primeira vitória na Turíngia – se a História se repete, é porque aprendemos pouco.

Em segundo lugar, Björn Höcke, líder da AfD na Turíngia, participou numa marcha neonazi em 2010 e usou na campanha slogans nazis (foi multado duas vezes por isso; a AfD chegou a iniciar a sua expulsão em 2017, após declarações sobre o Holocausto, além de se suspeitar ser Landolf Ladig, autor de artigos com posições próximas do nacional-socialismo. E, como se não bastasse, o BSW tem algumas posições próximas da AfD, designadamente sobre a imigração e a Ucrânia.

Isto fica mais complicado depois da subida em França da extrema-direita nas últimas eleições. São os dois pilares da União. Não é só o governo alemão que fica mais frágil, são as prioridades políticas alemãs e europeias que estão em vias de ser redesenhadas, e o risco para a União de a força centrífuga ganhar à força centrípeta. É altura de entre democratas se procurarem pontos de união, senão quando dois idiotas lutam, o terceiro ganha.