A robotização da atividade produtiva provocará uma profunda alteração na distribuição da riqueza, além de impactos sociais que começam a ser frequentemente discutidos. Há analistas que antecipam um mundo mais equitativo, onde os robôs pagarão impostos para financiar uma renda básica que premiará a condição humana. Pelo contrário, há quem pense que regrediremos a um mundo tecno-feudal, onde a propriedade concentrada dos robôs reeditará um cenário comparável à escravatura, desta vez num formato digital.

Além da utilização de robôs para a substituição de atividades repetitivas nas fábricas, a sofisticação dos algoritmos atuais de programação e, sobretudo, a capacidade da inteligência artificial para os aperfeiçoar permanentemente, permitem já utilizar robôs para atividades que exigem a reação a situações mais heterogéneas.

As máquinas já gerem hotéis, como o Henn-na em Tóquio, ou tomam decisões em substituição de radiologistas, advogados ou financeiros, embora nestes últimos casos não seja precisa uma atividade mecânica significativa. Inclusive a Tencent, um dos gigantes tecnológicos chineses, está a desenvolver um robô que escreve artigos, provavelmente melhores que este, a partir do cruzamento de informação sobre os temas dominantes nas redes sociais e o imenso manancial de dados atualizados disponíveis na Internet sobre qualquer matéria.

Mas será possível termos robôs também a gerir empresas? Há muitos tipos de gestores, com maior ou menor iniciativa, mas em termos gerais a gestão é, sobretudo, uma prática, mais que uma arte ou uma ciência. E, sendo fundamentalmente uma prática, será possível programar máquinas com algoritmos que as preparem para alocar recursos de forma eficiente e reagir adequadamente aos cenários habituais de gestão.

A analítica de dados permitirá aperfeiçoar a capacidade de decisão e os robôs-gestores que acumulem maior experiência e melhor desempenho poderão também aspirar a formar parte dos conselhos de administração das empresas, em que deverão contribuir para tomar decisões estratégicas com horizontes temporais mais alargados. Desta forma, todas as atividades que conjuguem fundamentalmente ciência e prática serão progressivamente programáveis e geridas por máquinas. Mas o que acontecerá com as atividades com maior carga emocional? Como tratarão os robôs a gestão do risco e tomarão decisões em situações de falta de informação perfeita? Poderão os robôs tomar iniciativas e montar uma empresa?

Quando inserimos estas atividades, que inicialmente imaginamos de forma isolada, num ecossistema económico alargado e interativo entre elementos digitais, podemos questionar-nos sobre ideias ainda mais sugestivas: será que os bancos geridos com inteligência artificial concederão empréstimos aos robôs empreendedores? E, se o robô-empresário não receber o empréstimo para a sua nova fábrica, ficará triste?

Se assim for, não devemos ficar preocupados porque esse empresário androide contará com uma grande vantagem sobre nós: poderá contar ovelhas mecânicas até ao infinito.