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RS “é hoje aceite como estratégica, integrada na gestão de risco”

No rescaldo da 11.ª edição da Semana da Responsabilidade Social (RS), Mário Parra da Silva, fundador e presidente da APEE , faz um balanço do evento e da evolução desta área em Portugal.
14 Junho 2016, 08h30

O que levou a APEE a destacar o tema “Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável”?

Este tema foi escolhido na sequência da aprovação da Agenda 2030 e dos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pela Assembleia Geral das Nações Unidas, concretamente do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 17 – Parcerias. A APEE é a instituição “host” da rede portuguesa do UN Global Compact – UN GCNP, a maior rede empresarial do mundo, e tem como responsabilidade estimular e organizar a contribuição do setor empresarial para a realização destes objetivos, que são uma aposta de toda a comunidade internacional para, nos próximos 15 anos, erradicar a fome e a pobreza, mitigar as alterações climáticas, proteger a vida e os ecossistemas, reduzir as desigualdades, promover o desenvolvimento e o trabalho digno, garantir a paz e os direitos humanos, melhorar a saúde e educação, o acesso a recursos renováveis, entre outros.

No contexto, em Portugal, que caminho já foi percorrido? E o que urge ser feito?

A UN GCNP lançou o projeto Aliança para os ODS Portugal que teve o melhor e mais amplo acolhimento, recebendo a adesão das mais representativas entidades associativas portuguesas e reunindo todos os setores implicados na concretização dos ODS.

Ao nível governamental, foi já definida uma estrutura de acompanhamento, dinamizada e centralizada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, envolvendo múltiplas entidades de outros ministérios. Ao nível das organizações da sociedade civil, está em curso uma campanha de sensibilização da opinião pública, com o apoio do Instituto Camões, que também apoia a cooperação portuguesa nesta agenda. A Academia está também a integrar os ODS nos seus programas e já temos informação de alinhamento de negócios com estes desafios. Urge que a comunicação social dê mais ênfase a esta agenda global para maior empenho da opinião pública; urge que as PME sejam envolvidas, ainda não estão informadas; urge que os jovens nas escolas e universidades sejam informados e motivados; e urge uma nova ética de responsabilidades que venha complementar o atual foco nos direitos. Só temos direitos na medida em que assumimos responsabilidades.

Portugal caminha a um ritmo “mais lento” nomeadamente do que os seus pares europeus?

Não. Graças às organizações que trabalham neste domínio, além da APEE e UN GCNP, o GRACE, a JAP, o BCSD, a RSOPT, a Plataforma das ONGDS, as ONGA, as organizações que promovem a Igualdade de Género, as agências das Nações Unidas em Portugal, nomeadamente a FAO, Unesco, Unicef, OIT, OIM, entre outras, temos muitos ativistas que estão agora mais alinhados. No passado, tivemos um grande divórcio e até desentendimentos entre diferentes setores da atividade cívica. A Agenda 2030 e os ODS, com a sua mensagem de “não deixar ninguém de fora, não deixar ninguém para trás” proporcionaram um terreno comum e um desafio comum. Alinhadas, estas organizações têm uma grande capacidade de criar mudança. Estamos ao nível dos países mais avançados.

 

Nesta última década, como evoluiu a RS em Portugal? Que peso assume atualmente na estratégia das empresas?

A evolução foi enorme. Dez anos atrás, a RS era vista como “moda” passageira, como operação de marketing e como custo. Não tinha qualquer relação com a ética ou a gestão de risco. A APEE, como Organismo de Normalização Setorial reconhecido pelo IPQ, introduziu em Portugal o conceito novo que se iniciava com a elaboração da ISO 26000, a norma internacional que mais influência tem tido na elaboração de políticas neste domínio em todo o mundo. No seguimento da ISO 26000, a Comissão Europeia emitiu a “estratégia europeia de RS” em 2010, que consagrou a definição e os conceitos de RS da ISO 26000 no espaço europeu. Hoje, a RS é aceite em Portugal como estratégica, ancorada na ética, integrada na gestão de risco e na compliance, partindo do cumprimento da lei, assente no sucesso económico e financeiro da empresa e na adequada remuneração do acionista, consistindo na criação de valor também para as partes interessadas, num quadro de cidadania organizacional responsável pelos impactos positivos e negativos da sua atividade e decisões. É cada vez maior o número de empresas que integram esta filosofia de gestão na sua estratégia de negócio.

Estarão os empresários portugueses suficientemente conscientes da importância da RS?

Não estão. As grandes empresas sem dúvida já estão, as multinacionais recebem estas orientações das suas entidades corporativas. Mas a imensa maioria dos empresários portugueses são das PME. Normalmente, reagem ao que o mercado pede. A diretiva 2014/95 da Comissão Europeia já está em vigor e 2017 é o primeiro ano de relatório integrado para 6 mil grandes empresas na UE. O mercado vai começar a pedir. No próximo ano muitos empresários vão começar a ser solicitados para fornecer informação sobre aspetos sociais, ambientais e éticos da sua atividade. A APEE estará pronta para dar resposta.

Por Sónia Bexiga/OJE

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