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RTP3 continua a afundar nas audiências? “É falso”, diz ex-diretor de informação

António José Teixeira veio hoje a público dizer que o argumento da queda das audiências na RTP3 “é falso. E não é uma questão de opinião. É factual”. E defende que a RTP não pode mudar ao rumo dos “ciclos políticos”.
José Sena Goulão/Lusa
2 Julho 2025, 16h05

“Em nome da verdade”. Foi assim que o ex-diretor de informação da RTP (à esquerda na foto) intitulou o seu artigo de opinião no jornal “Público”, esta quarta-feira, onde conta o seu lado da história sobre a sua demissão da estação pública.

“Os portugueses precisam de uma RTP livre e independente, que não mude ao sabor de equívocos ou dos ciclos políticos”, disparou hoje António José Teixeira.

Sobre o argumento de que a demissão da sua Direção de Informação (DI) tenha ocorrido devido à continuação da perda de audiências da RTP3, o mesmo afirma que é “falso”. “E não é uma questão de opinião. É factual. No presente trimestre, está acima do período homólogo de 2024. Em 2024, teve o mesmo share de 2023. Em 2024, os nossos concorrentes diretos perderam audiência, ao contrário da RTP3. Em resumo, nestes últimos três anos não houve quebra de audiência na RTP3. O rating de 2024 até foi superior ao de 2023. Já agora, as audiências dos principais formatos informativos diários (seja o Telejornal, o Jornal da Tarde ou o Portugal em Direto) ou não diários (Linha da Frente ou A Prova dos Factos) estão a crescer. O mesmo se pode dizer da área de notícias no digital, que teve crescimentos acima dos 30% no ano passado.”

O jornalista disse que a sua DI não estava satisfeita com o rumo dos acontecimentos e que, por isso, “há vários anos” alertava e insistia na “necessidade de renovação dos estúdios, das condições de trabalho na redação, da sua organização e da imagem da informação. Foi por persistente proposta da DI que avançámos há um ano e meio para um projeto ambicioso, intitulado Casa das Notícias, cuja primeira fase se concluirá dentro de pouco mais de dois meses.”

E continua: “Foi por nossa iniciativa que se avançou para um novo estúdio de informação no Porto, dois estúdios completamente remodelados em Lisboa, uma nova imagem para a informação e a reformatação do canal de informação, incluindo a sua marca. Porque é preciso fazer mais e melhor, estivemos a trabalhar com todas as áreas da empresa e com o acompanhamento permanente de um vogal da administração da RTP e a assessoria técnica e editorial da EBU. Por alguma razão, até agora por explicar, se quis interromper este processo.”

No artigo, recordou também que a informação da RTP foi considerada a mais confiável de Portugal pelo Digital News Report da Reuters/Universidade de Oxford/Obercom.

António José Teixeira foi substituído no cargo pelo jornalista Vítor Gonçalves.

Para terminar, disse estar orgulhoso com o “trabalho realizado, do esforço que todos colocámos nos múltiplos desafios destes anos: da pandemia às guerras da Ucrânia e no Médio Oriente, da Jornada Mundial da Juventude a sucessivas campanhas eleitorais. Mesmo com menos recursos, respondemos com qualidade e prontidão. Estou certo de que assim continuará a ser.”

Num artigo de opinião recente, também no “Público”, e a responder às críticas feitas por Pedro Adão e Silva (que tutelou a comunicação social no Governo de António Costa), o presidente do conselho de administração da RTP justificou a demissão de António José Teixeira: “A RTP3 continuou a cair nas audiências, foi ultrapassada por um canal recém-chegado ao mercado e tornou-se o canal informativo diário que menos interessa aos espectadores portugueses.”

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) já veio a público criticar o facto de o conselho de administração da estação pública não ter ouvido o Conselho de Redação para “demitir ou designar as pessoas responsáveis pelo conteúdo informativo dos serviços de programas televisivos ou quem exerça cargos de direção com responsabilidade pela informação dos órgãos. Mas nem para demitir António José Teixeira, nem para nomear Vítor Gonçalves, a administração da RTP pediu parecer ao Conselho de Redação dos seus órgãos, que está constituído e ativo.”

“O Sindicato dos Jornalistas exige que os trabalhadores sejam ouvidos no processo de reestruturação das direções da RTP, como em qualquer alteração ao funcionamento das televisões e rádios públicas. Não vivemos tempos em que se possam admitir autoritarismos na gestão da comunicação social. Cada vez mais se torna claro que os Conselhos de Redação devem ter poderes de intervenção vinculativos, que permitam defender a independência editorial das redações”, segundo o SJ.

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