Desde que assumiu a liderança do PSD, Rui Rio consegue, dia após dia, deixar mais perplexo o eleitorado de direita e centro-direita: aumentos dos funcionários públicos, uma posição extraordinária contra a eliminação do imposto adicional sobre os produtos petrolíferos – contradita pela sua própria bancada parlamentar – e agora a defesa de uma medida do Bloco que visa a criação de um imposto sobre operações imobiliárias especulativas.
Sejamos claros: não é por ser uma medida do BE que o PSD deve estar liminarmente contra. O PSD tem de ser o principal defensor do capital. Sim, isso mesmo do capital. É do PSD que esperamos a proteção do rendimento, seja do trabalho seja do capital. É do PSD que esperamos o papel de zelador dos direitos do contribuinte. É do PSD que esperamos a defesa do investimento, da iniciativa privada e, já agora, dos cidadãos do setor privado. Não é do PSD que esperamos o populismo e a demagogia que habitualmente caraterizam partidos como o Bloco e o Partido Comunista. O que é que se segue? Apoiar o outro absurdo proposto pelo Bloco que quer acabar com o IRS especial para estrangeiros a viver em Portugal?
A taxa “Robles”, nas palavras de Catarina Martins, tem de ser penalizadora, não meramente simbólica. É uma forma de “arrecadar” receitas para o Estado. Desta esquerda não esperamos outra coisa: financiar o monstro sem nunca emagrecê-lo. À custa dos contribuintes e assumindo como estratégia única o confisco do rendimento. O PS disse não e bem. António Costa já nem precisa de inventar: Rui Rio trata de carregá-lo em ombros até à maioria absoluta.
Responder com impostos agravados aos setores que estão a dinamizar a economia não os regula. Mata-os. O investimento imobiliário em Portugal trouxe benefícios visíveis e quantificáveis para a economia portuguesa: a entrada de capital estrangeiro em Portugal, a reabilitação das cidades, a requalificação das periferias que se aproximam dos centros urbanos, na medida em que passam a ser consideradas para investimento imobiliário por parte dos portugueses. Mas trouxe mais: trouxe hotéis, turismo, comércio diferenciado de qualidade indiscutivelmente superior à que tínhamos há 15 anos. Colocou Portugal entre os melhores destinos do mundo. Ajudou, inclusivamente, a baixar a taxa de desemprego para níveis sem precedentes. Foi tudo resultado do imobiliário? Não. Mas certamente que o investimento imobiliário é causa e efeito desse movimento, que todos devíamos saudar.
Existe especulação quando há um desequilíbrio entre oferta e procura. Não se trata de uma questão fiscal. O problema resolve-se aumentado a oferta e sobre isso nada ouvimos dizer nem ao Bloco nem sequer ao Governo. Era isto que queríamos ouvir do PSD: onde está a resposta pública quando a Câmara de Lisboa, por exemplo, é o maior proprietário da cidade? Travar a especulação com impostos agravados só engorda os cofres do Estado mas nada fará pelos preços dos imóveis. A medida é demagogia pura. Nada de novo no Bloco. Tudo de surpreendente de um PSD que claramente escolheu mal o seu líder. Disse Rui Rio que quem não se revê no PSD deve sair. Mas é o PSD que não se revê em Rui Rio.