Como era altamente previsível, o recente congresso do PPD/PSD traduziu-se num evento monótono. De facto, com a questão do presidente do partido previamente resolvida, nem os apupos ao atual principal rosto da oposição interna aqueceram o ambiente. A exemplo das intervenções de Rui Rio. Discursos em que reafirmou a disponibilidade para as reformas estruturais de que o país continua a carecer, e assim colocou a tónica na questão do posicionamento político do partido.
No que concerne às reformas, tratou-se algo que pareceria dispensável. Em Portugal, as grandes alterações ao sistema continuam a necessitar da confluência dos interesses socialistas e sociais-democratas. A Constituição a isso obriga. Dizer que o PSD dispõe de melhores condições para proceder às reformas é discutível. Não basta invocar o interesse nacional para que o mesmo seja colocado em primeiro lugar.
No que concerne ao posicionamento ideológico, face ao aumento do populismo de direita e extrema-direita e ao declínio eleitoral do CDS-PP, Rui Rio deixou claro que não é nesse lado do espetro partidário que pretende alavancar a recuperação eleitoral do partido. O seu público-alvo está no centro. Aquelas centenas de milhares de eleitores que votam, prioritária e alternadamente, no PS e no PSD. Eleitores que podem ser catalogados como pertencendo a um estrato social com tendências entre conservadoras e moderadamente reformistas e que privilegia aquilo que tem em detrimento de reivindicações ainda que justas.
Dito de uma forma mais clara: dá-se por satisfeito quando o Governo não lhe entra demasiado nos bolsos enquanto aposta nos seguros de saúde e no ensino particular, face à degradação da oferta pública. Uma situação que quer ver resolvida. Só que não à sua custa.
Foi para esses cidadãos cujo pragmatismo não se compadece com grandes discussões do foro ideológico que Rui Rio falou em Viana do Castelo. Fê-lo, obviamente, em português, mas o domínio da língua alemã talvez se tenha revelado útil para Rui Rio. Nada como ler e ouvir as notícias na língua de origem.
A fluência na língua de Goethe permitiu-lhe perceber a situação que a Alemanha está a viver, devido à eleição no Estado da Turíngia. Tudo porque o liberal Thomas Kemmerich foi eleito com os votos combinados da União Democrática Cristã (CDU), o partido a que pertence Angela Merkel, e da Alternativa para a Alemanha (AfD), partido populista de extrema-direita. Uma eleição que colocou a Alemanha em polvorosa. Angela Merkel demitiu, de imediato, Christian Hirte, que, para além de secretário de Estado do Ministério da Economia e da Energia, era o comissário do Governo para os Estados do leste da Alemanha, a zona a que pertence a Turíngia.
Logo a seguir, a atual líder da CDU, a ministra da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, anunciou que vai abandonar a chefia do partido e, como tal, não se apresentará a votos nas próximas legislativas. Para piorar a situação, o Partido Social Democrata (SPD) ameaçou abandonar a coligação governamental, caso o recém-eleito Kemmerich não se demitisse. Uma agitação política que não terminou com a renúncia de Kemmerich. Por isso, as preocupações que estão a marcar o final do mandato de Merkel só poderão aumentar quando a ainda chanceler sair do Poder.
Voltando ao congresso do PSD, é este clima de instabilidade que Rui Rio pretende, a todo o custo, evitar. Por isso, anunciou uma liderança responsável, capaz de resistir ao canto demagógico das sereias populistas. Só que, mesmo dispondo da estabilidade interna possível, a questão de a liderança vir a ser mobilizadora faz parte de outro cenário. A confiança dos eleitores alimenta-se não apenas da credibilidade do próprio mas também do descrédito alheio. Resta a Rio cumprir a sua parte.