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Rui Rio: “Gigante adormecido” acorda a sonhar com um ciclo de vitórias

As últimas sondagens dão margem a Rui Rio para objetivos que pareciam inatingíveis. Depois de silenciar o ruído das guerras internas no PSD, a direção do partido está focada nas eleiçõese promete ser uma alternativa ao Governo.
4 Maio 2019, 10h00

Ganhar. Foi este o compromisso assumido por Rui Rio quando se candidatou à presidência do PSD.  Venceu as eleições internas – não uma, mas duas vezes –  e, ainda as comemorações iam a meio, já se propunha a conquistar algo maior: as legislativas. Ao volante do maior partido da oposição, Rio guiou o PSD, em janeiro, até ao pior resultado nas sondagens desde 1976, mas agora inverteu a marcha e fez uma aproximação perigosa ao PS. A pouco mais de sete pontos percentuais de distância, Rio está mais perto de conseguir um bom resultado nas eleições de maio, de setembro (manter o Governo Regional da Madeira é um objetivo mais alcançável do que reconquistar o dos Açores) e de outubro e, a manter-se a tendência, o ruído das guerras internas no PSD deve manter-se inaudível por bom tempo.

O desafio lançado por Luís Montenegro para disputar a liderança dos sociais-democratas marcou o início de uma nova era. Montenegro contestava então a “situação devastadora” a que Rio tinha condenado o partido. Acusava-o de estar a conduzir o PSD a uma “derrota humilhante” e de colocar em risco “a sua sobrevivência como grande partido”. A Montenegro juntaram-se vários saudosos de Santana Lopes e descrentes na liderança. A todos Rio respondeu com a vitória de uma moção de confiança à direção nacional do PSD, numa reunião extraordinária do Conselho Nacional. Na hora da derrota, Montenegro falou no despertar do “gigante adormecido” e deixou novo desafio a Rio: “Conseguir a terceira vitória consecutiva do PSD_[após as de Passos Coelho, em 2011 e em 2015, dessa vez coligado com o_CDS-PP] nas eleições legislativas.”

Desde então, três meses se passaram e o líder da bancada parlamentar do PSD, Fernando Negrão, considera que o partido está hoje “mais unido e é uma verdadeira alternativa ao atual Governo”. “Estamos hoje melhor preparados para fazer oposição ao Executivo de Costa, nomeadamente no plano económico, financeiro e social. O país precisa de mudar. Temos assistido a coisas que revelam uma grande incompetência da parte do Governo, nomeadamente no que toca às nomeações familiares e à questão dos combustíveis. Temos um Governo que não revolve problemas, mas cria-os”, disse ao Jornal Económico.

Os números dão um novo fôlego aos sociais-democratas na luta para enfraquecer o Executivo. A última sondagem da Aximage aponta para uma subida considerável das intenções de voto no PSD, enquanto o PS mantém a trajetória descrescente iniciada em setembro do ano passado. O PSD está agora a uma diferença de 7,3 pontos percentuais do PS, com 27,3% das intenções de voto. A aproximação dos dois maiores partidos do “centrão” acontece depois de, em setembro de 2017 – um mês antes de Pedro Passos Coelho ter anunciado a saída da liderança – a diferença entre PSD e PS ter sido de 20,7 pontos percentuais (quase tanto como os 23,6% que o PSD conseguiria em caso de eleições nesse mês). Agora, as sondagens mostram ainda que a popularidade de Rio tem estado a subir, após ter sobrevivido à tentativa de impeachment de Montenegro.

Mérito próprio ou demérito do PS?

As sondagens da Aximage coincidem com o mês em que foram expostas as várias relações familiares e pessoais que ligam diferentes membros do Governo. O ex-presidente do PSD Luís Marques Mendes, para quem o maior desafio de Rio sempre foram as sondagens negativas, mesmo quando estava a ser desafiado para diretas por Montenegro, considera que a subida do PSD se deve, sobretudo, “a uma questão de desmérito do Governo”. “O atual Executivo está a passar por uma péssima fase, com falhas em catadupa e a revelar uma desorientação total”, afirma ao Jornal Económico.

“O PSD é o beneficiário direto, enquanto partido da oposição, e não o é necessariamente por aquilo que tem feito. Esta subida deve-se sobretudo à dimensão e quantidade de erros da governação que são revelados todas as semanas pelos jornais”, diz Marques Mendes. O antigo líder do PSD vai mais longe e diz mesmo que é “uma surpresa que o PS continue a liderar as sondagens, tendo em conta os sucessivos erros políticos”, que praticamente eclipsaram o impacto positivo dos passes sociais esperado nas intenções de voto no PS. Mendes reconhece que o PSD está agora numa fase “mais calma” e com menos atritos internos, mas diz que lhe falta tomar pulso como líder da oposição ao Governo.

Também o politólogo António Costa Pinto concorda que o nepotismo governamental causou uma mossa na imagem do Governo junto dos portugueses e praticamente eclipsou o impacto positivo dos passes sociais. No entanto, o investigador coordenador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS) defende que “o único acontecimento que pode explicar a subida do PSD no barómetro da Aximage é a eficaz campanha do PSD face ao familiarismo no Governo e à resposta atabalhoada que o PS deu a isso”. “Tudo isto se deve à muito eficaz chamada de atenção do PSD para o familiarismo no Governo”, reitera.

Pegando nas palavras de Rio, também o deputado Duarte Marques acredita que o PS se pôs a jeito de perder as eleições e cabe ao PSD pôr-se a jeito para as ganhar. Marques afirma que “o PSD tem tido uma linha de coerência em várias matérias, o que contrasta com o PS que tem vindo a ser desacreditado”. “O Governo dizia que não ia aumentar a carga fiscal e isso não aconteceu. O mesmo foi o investimento público, que foi fraco. O PSD estendeu a mão ao PS para os acordos de regime, como a questão dos fundos comunitários e a descentralização, mas foi apunhalado. Aos poucos, têm sido descabeladas as falsidades do Governo aos portugueses e as críticas construtivas que o PSD tem feito parecem estar a dar frutos”.

Um longo caminho até às legislativas

As sondagens podem até ser positivas, mas o líder parlamentar do PSD prefere esperar pelos resultados eleitorais para tirar conclusões. “Ninguém desgosta de sondagens favoráveis, mas é preciso ter um duplo cuidado. Primeiro, é preciso perceber que são apenas sondagens e não votações. Depois, temos, enquanto partido, acompanhar essas sondagens”, explica Negrão. “Quem anda na vida política deve ter uma ideia para o país e ter noção de como lutar por isso, acreditando sempre que pode fazer a diferença. No PSD, acreditamos nas nossas convições e acreditamos que podemos ser e somos uma alternativa ao atual Governo”.

Negrão diz ainda que, “no pós-eleições [diretas do PSD], o partido foi alvo de um reajustamento que teve como consequência trazer um partido mais unido do que era antes”. A confirmar essa união no PSD está Duarte Marques, que não tem dúvidas de que as feridas abertas em janeiro já estão saradas. “O partido está mais coeso e unido e isso nota-se no dia a dia. Temos uma liderança mais madura e quem se mostrou contra expressou a sua opinião e não deverá voltar a pronunciar-se até às eleições. Há momentos para questionar e momentos para unir, e este é claramente um momento para unir”, afirma. O deputado diz ainda que “é normal que existam divergências de opiniões nos partidos, mas há uma coisa que une todos os lados do PSD, que é a oposição ao PS e à Geringonça”.

Já Costa Pinto mostra-se reticente em relação à possibilidade de Rio conseguir manter as projeções da Aximage. Para o politólogo, a subida de que beneficiou o PSD deve-se a “motivos de ordem conjuntural” que vão ter um impacto apenas “a curto prazo”. O investigador do ICS diz, no entanto, que o consenso entre os sociais-democratas, após as diretas, veio beneficiar a atual direção do PSD e que isso será uma mais-valia nas eleições. Considerando que ainda é “demasiado cedo” para se pensar nas legislativas, Costa Pinto sustenta que o PSD tem tudo para ter um bom resultado eleitoral já nas europeias, que decorrem a Portugal a 26 de maio.

“A escolha de Paulo Rangel como cabeça de lista do PSD às europeias foi uma mais-valia para o partido e é visível o receio do PS nos debates. Pedro Marques [cabeça de lista dos socialistas nas europeias] tem uma notoriedade bastante menor do que a de Rangel e em termos de escolha foi uma menos-valia para o PS. Os socialistas vão ter de fazer uma campanha para estas eleições mais centrada no partido em si e não uma campanha personalizada. O secretário-geral do partido [António Costa] vai ter de participar mais na campanha a fim de conseguir votos para o seu candidato”, defende.

A lista do PSD às europeias já foi anunciada. A Rangel juntam-se nomes como Lídia Pereira, José Manuel Fernandes, Graça Carvalho e Álvaro Amaro. Embora ainda não tenham sido divulgadas as linhas programáticas do partido, já são conhecidos alguns dos desígnios do PSD na corrida ao Parlamento Europeu: maior investimento dos fundos comunitários, maior foco nos jovens e na Força Aérea, a criação de uma estratégia comum para a natalidade e de um programa europeu de luta contra o cancro.

Artigo publicado na edição nº 1985 de 18 de abril do Jornal Económico

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