O dinheiro tem acompanhado a evolução das sociedades desde há milénios, como meio de pagamento ou reserva de riqueza, encarnando diversos formatos, que variaram de acordo com a cultura e a tecnologia de cada época.
Metais preciosos, como o ouro e a prata, foram utilizados em transações pelo menos desde 5000 a.C., sendo que, por volta do ano 700 a.C., mercadores da Lídia, na atual Turquia, começaram a utilizar moedas de ouro e criaram, pela primeira vez, um conceito estandardizado de valor, a que chamaram Electrum. Este foi um ponto de viragem, que ainda se repercute na forma como vivemos. O mundo seria hoje muito diferente sem dinheiro: talvez melhor, talvez pior, mas seguramente diferente.
Atualmente, muitos acreditam que o futuro será completamente cashless e que o dinheiro não passará de números em registos eletrónicos, uma entidade abstrata sem qualquer representação física, como notas ou moedas. No entanto, o dinheiro físico, ou cash, continua a revelar-se fundamental.
Apesar do aumento no volume de transações eletrónicas, devido a medos de contágio, o valor total das notas de euro em circulação aumentou em 41 mil milhões durante as quatro semanas do período mais agudo da pandemia do novo coronavírus na Europa. Parece que açambarcar dinheiro em notas durante crises, tal como acontece com o papel higiénico, pode, para muitos, ser reconfortante.
Também o Banco de Inglaterra publicou dados que fazem pensar. Em março de 2020, o valor total das notas em circulação era de 71 mil milhões de libras, mais do que mil libras por habitante e o dobro do que existia há dez anos. Estes registos surpreendem porque são poucas as pessoas que andam com mais de mil libras na carteira, o que nos leva a depreender que o cash ainda desempenha um papel importante, sobretudo para quem está ligado à economia paralela, bem como para quem tem menos motivação, recursos ou conhecimento para recorrer a opções eletrónicas.
Contudo, é inegável que estamos a evoluir para um futuro que, muito provavelmente, será cashless. Nos países em desenvolvimento, onde muitas pessoas sem acesso a conta bancária dependiam do dinheiro físico para sobreviver, soluções que se servem de telemóveis para fazer pagamentos entre utilizadores têm-se tornado populares, como acontece, por exemplo, no Quénia com o sistema M-Pesa, criado pela Vodafone em parceria com um operador local.
Por seu turno, nas economias avançadas, é cada vez mais comum o uso de cartões de débito e crédito no dia a dia, tal como são absolutamente normais as transferências eletrónicas, por via bancária ou através de alternativas como o Revolut.
É de prever que, no decurso desta década, vários países optem por uma economia exclusivamente cashless, o que trará, certamente, inúmeras vantagens, mas também poderá contribuir para acentuar desigualdades entre os que têm e os que não têm literacia tecnológica e financeira. Esse será, possivelmente, o grande desafio.