Em 2025, a economia russa enfrenta uma encruzilhada que desmente a narrativa oficial de resiliência. O crescimento recente, sustentado quase exclusivamente pelos gastos militares e pela substituição de parceiros ocidentais por países como a China e a Índia, revela-se artificial: é o próprio tecido económico que está a ser consumido para alimentar a guerra. Em resumo, um castelo de cartas sobre uma economia que se torna cada vez mais dependente do fosso em que cava.
O PIB ainda cresce cerca de 1,5% este ano, mas a desaceleração é visível. Segundo o índice do Goldman Sachs, o crescimento anual caiu de mais de 5% para quase zero desde janeiro. O primeiro trimestre trouxe sinais de contração: em fevereiro o avanço mensal foi de apenas 0,8%, contra 3% no mês anterior. A inflação, apesar de alguma descida, mantém-se elevada — 8,8% em julho e 8,1% em agosto, o dobro da meta do Banco Central. Nos alimentos, a pressão é brutal: o quilo da batata triplicou em doze meses, atingindo 85,4 rublos (cerca de 1,05 dólares).
Importa lembrar que são precisamente as pequenas necessidades diárias que as famílias sentem mais – este tipo de inflação corrói qualquer resiliência social e põe em xeque o suposto apoio interno ao regime. A escassez de mão-de-obra, agravada pela mobilização militar e êxodo, dispara salários sem ganhos reais de produtividade – o velho jogo do “mais caro e menos eficiente”.
O esforço de guerra devora o orçamento. Só em 2025, a despesa em defesa atingiu 7,1% do PIB, cerca de 149 mil milhões de dólares, segundo o SIPRI. Quase 40% do orçamento federal está comprometido, um nível não visto desde a Guerra Fria. A indústria militar e os sectores conexos – metalurgia, química, aeroespacial – prosperam, sim, mas à custa da drenagem das finanças públicas e dos fundos soberanos.
Reservas que deveriam proteger contra choques externos estão a ser usadas para tapar buracos, financiar a máquina de guerra e manter a máquina estatal a andar. O défice fiscal funciona como um nó cego, e a margem para manobrar encolhe a cada mês — não porque falte dinheiro, mas porque o dinheiro é mal gasto. E esta ilusão financeira é um convite ao desastre.
Externamente, cresce a dependência de Pequim. A China tornou-se parceiro indispensável, financiador e comprador da energia vendida com descontos. O efeito prático é que Moscovo aguenta o serviço da dívida, mas ao preço de ver a sua soberania económica refém de um gigante. Quanto mais a Rússia depende da China, menor fica o leque de escolhas autónomas – pelo menos aquelas que não passem por aceitar ordens disfarçadas de apoio. É a dança da subordinação que quase todas as potências tentam evitar, mesmo na adversidade.
A substituição de importações impulsionou alguma reindustrialização, mas limitada e centrada no esforço militar. Exportações energéticas ainda garantem divisas, mas sectores civis como construção, automóvel e siderurgia retraem-se. O desaparecimento do investimento estrangeiro, aliado à inflação persistente e às taxas de juro altas, aprofunda a estagnação estrutural, tornando provável a recessão.
A economia russa em 2025 cresce nas estatísticas, mas definha na substância. A inflação resiste, a mão-de-obra escasseia, os fundos soberanos esgotam-se e o consumo interno contrai-se. O apoio chinês dá fôlego imediato, mas limita opções estratégicas. A guerra militariza o presente e hipotecará o futuro. O que estamos a assistir é menos uma estratégia económica do que uma agonia calculada, com saldo negativo garantido para as próximas décadas.
Nas condições atuais, a Rússia pode sustentar o esforço de guerra por 12 a 18 meses, até meados ou final de 2026, com base nas reservas líquidas (cerca de 49 mil milhões de dólares) e no apoio chinês. Mas o esgotamento iminente dos fundos soberanos, aliado à inflação de cerca de 8% e à degradação dos sectores civis, aumenta o risco de recessão ou crise fiscal já a partir de 2026.
Um cenário otimista, com preços de energia mais altos ou maior suporte asiático, poderá estender a sustentabilidade até 2027; uma escalada militar ou novas sanções podem precipitar uma crise já em meados de 2026, forçando cortes no orçamento de defesa ou concessões para aliviar a pressão económica. O tempo de manobra está esgotado. Ou se muda o jogo – ou o jogo muda a Rússia.