O mediaticamente conhecido como caso da Câmara Municipal de Setúbal, em que cidadãos refugiados ucranianos foram recebidos por uma associação russa que fazia o acolhimento para a edilidade de Setúbal, é um escândalo a todos os títulos. Até porque, soube-se também, e na sequência da notícia do jornal “Expresso”, que uma associação ucraniana tinha oferecido os seus serviços à Câmara Municipal de Setúbal para os mesmos efeitos e não chegou, sequer, a ter resposta da parte da autarquia.

Nestes dias em que se tornou tão mediático o presidente da edilidade de Setúbal e a gestão comunista desta autarquia, ficou também claro que os alinhamentos internacionais continuam a fazer o seu caminho. O PCP, apesar das muitas derivas ideológicas de Putin, é fiel a Moscovo e ao Kremlin e terá dado uma grande machadada no seu futuro com os argumentos de defesa da invasão da Ucrânia pela Rússia, de acordo com a generalidade dos analistas.

Já vínhamos assistindo a diversos casos de definhamento eleitoral do PCP em várias autarquias, sobretudo no Sul do país, perdendo eleitores em várias eleições, quer legislativas quer autárquicas para vários partidos, em particular para o PS e, pasme-se, para o Chega. Agora, e ao que as análises indicam, o alinhamento com Putin será o golpe final.

Isto ao mesmo tempo que o primeiro-ministro António Costa anuncia uma viagem a Kiev, depois de uma videoconferência em que apareceu vestido de amarelo e azul, as cores da Ucrânia, e num dia em que também a União Europeia, através de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, anuncia o objetivo de, até ao fim do ano, concretizar um corte total da compra de petróleo russo, e o mesmo deverá suceder com o gás em prazo também a acordar.

Tudo acontece depois do anúncio de uma nova lista de sanções financeiras e sanções a pessoas ligadas ao poder russo em diferentes patamares. O PCP escolheu o seu lado e o seu lado é o de Cuba, Venezuela, Bolívia e, provavelmente, será o lado do futuro Brasil, onde Lula da Silva lidera todas as sondagens e poderá “devorar” Bolsonaro em eleições.

Lula veio dizer esta semana que, entre Putin e Zelensky, está claramente do lado de Putin (curiosamente também Bolsonaro quer ser o anfitrião nas ligações a Putin), tendo até classificado o presidente ucraniano como um ator que está a dar espetáculo!

Mas, como todos sabemos, o “espetáculo” é uma tragédia e políticos como o líder parlamentar do PC, o presidente da autarquia de Setúbal e – com as devidas distâncias – o ex-presidente Lula da Silva, estão a marcar um caminho que a uns vai custar bastante caro, caso do PCP, e a outros indiciam novos alinhamentos internacionais que a Rússia está a promover.

Não esqueçamos que os países chamados BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – têm votado de forma bastante clara nas Nações Unidas, senão ao lado da Rússia, sempre com uma clara abstenção. Os BRICS já criaram há uns anos um novo banco de desenvolvimento alternativo ao Banco Mundial, falam da criação de uma moeda comum e estão, por erro ou omissão, ao lado de Moscovo. As economias mundiais devem estar atentas a isso com todas as dependências que existem, sobretudo em relação à China mas também a alguns destes países, produtores de matérias e componentes fundamentais para o desenvolvimento tecnológico do mundo moderno.