Os efeitos nos mercados financeiros da intervenção militar da Rússia sobre a Ucrânia já começam a ser bem visíveis. As bolsas ampliaram a volatilidade e as quedas, numa tendência que já vinha desde o início do ano, reflexo do receio de mudança de ciclo na política monetária dos bancos centrais.
Nos mercados russos, o impacto tem sido mais notório. A bolsa local já recua mais de 40%, o quadruplo do que caiu o S&P 500, o rublo desliza e os juros da dívida soberana já estão bem dentro dos dois dígitos. Nas commodities, o contexto atual também está a exacerbar outras tendências, como a subida do preço do gás, petróleo, cereais e metais industriais. Notícias de ataque ao porto de Odessa fizeram disparar o preço do trigo, níquel e alumínio.
Merece reflexão outra questão: qual será o efeito desta crise nos juros? Um conflito é, normalmente, inflacionista e este em particular por afetar os preços da energia e de produtos alimentares. Por essa via, seria de esperar que os juros subissem para combater a inflação. No entanto, também se receia que o crescimento seja severamente afetado, principalmente a nível europeu. Tendo o BCE uma postura cautelosa relativamente a alterações na política monetária, é plausível pensar que esta situação poderá ser uma justificação para não a alterar. Nos EUA, o foco continuará a ser a inflação, mas só enquanto a situação não provocar uma queda pronunciada nas bolsas – a famosa “FED’s put”.
Após o ataque russo à Ucrânia, os juros soberanos recuaram significativamente, em resposta à maior aversão ao risco. A próxima reunião do BCE, que terá lugar em 10 de março, já era muito esperada pelo mercado e agora parece ser verdadeiramente crucial para antever a política monetária para 2022.