Enquanto a Administração Trump pondera a imposição de sanções adicionais à Rússia, mais concretamente às empresas que apoiaram o programa de armamento químico do regime de Bashar al-Assad, a governadora do Banco Central Russo, Elena Nabiulina, veio reafirmar a capacidade do sistema bancário em absorver perdas decorrentes da exposição às empresas sancionadas, com especial destaque para o gigante russo do alumínio, a Rusal.

Só esta empresa viu as suas ações na bolsa de Hong Kong caírem mais de 50%, tendo o seu dono, o oligarca Oleg Deripaska, perdido quase 30% da sua fortuna, com a empresa a não excluir o incumprimento da sua dívida já este ano.

Ainda que o Kremlin tenha prometido a adoção de medidas similares e o apoio às empresas penalizadas pelas sanções, a ordem de grandeza das duas economias – sendo a norte-americana quase 13 vezes maior do que a russa, que se situa algures entre as economias espanhola e italiana – assim como as dinâmicas diferenciadas de crescimento associadas a cada uma delas, fazem com que o efeito na economia norte-americano seja quase irrelevante, dado o seu grau de diversificação e incorporação de tecnologia.

Adicionalmente, as sanções económicas apresentam sempre um efeito boomerang: um país não atinge os seus parceiros comerciais sem se atingir a si próprio, acabando o lado mais frágil por ser o mais penalizado. Quanto a isto não há dúvidas, a Rússia é o elo mais fraco nesta luta de egos.

Sintomático desta situação é o caso da construtora aeronáutica Boeing, que adquire 35% do titânio utilizado no modelo 787 Dreamliner ao consórcio estatal VSMPO-Avisma. A companhia russa já emitiu um comunicado no qual adverte que novas sanções podem colocar em causa os seus 20 mil funcionários e fragilizar a economia local como um todo.

Apesar de a política externa agressiva do presidente Vladimir Putin ter aceitação junto de amplas faixas da população, na medida em que exalta os valores russos com ligações ao antigo império soviético, nas cidades de São Petersburgo e de Moscovo existe a perfeita consciência de que a política beligerante foi longe de mais, e que os danos causados à economia se vão estender por muitos anos.

Ainda que o rublo permaneça num valor estável face ao dólar, a inflação próxima de um mínimo histórico e se assista à queda do desemprego, a grande fragilidade russa situa-se na ausência de dinamismo económico que incentive a inovação e o empreendedorismo.

Após 18 anos de poder, o governo tem falhado em quebrar a sua dependência em relação ao setor do Oil & Gas, do qual é o maior produtor mundial, e em eliminar a corrupção e o nepotismo. Estes dois fatores penalizam fortemente a capacidade da Rússia em atrair investimento estrangeiro e capital humano, em competências que lhe acrescentem valor, permitindo-lhe uma visão mais abrangente do mundo.