O mundo vive sob o espectro de uma redução dos postos de trabalho no longo prazo, mercê da atual evolução tecnológica, em particular dos avanços da robótica e da inteligência artificial, responsáveis pela automatização de atividades até aqui desempenhadas pelo homem. As previsões, a este nível, não são auspiciosas: calcula-se que, nos próximos cinco anos, se extingam cinco milhões de empregos nas principais economias mundiais devido à 4.ª revolução industrial, que traz consigo, justamente, uma tendência de automatização das unidades fabris.

Independentemente do grau de fiabilidade das previsões, não podemos negar que há hoje uma mudança de paradigma no mercado de trabalho, em virtude da introdução de tecnologias, mecânicas ou digitais, nas atividades económicas, da hipervalorização do conhecimento como fator competitivo e da profunda especialização profissional do capital humano.

Como a História nos ensina, a 4.ª revolução industrial conduzirá, tal como as três anteriores, à obsolescência de muitas profissões, com efeitos na oferta de emprego. Mas não é de excluir que, no médio/longo prazo, os novos modelos de negócio industriais possam criar mais empregos do que aqueles que destruíram, como aconteceu com a passagem da produção manual à mecanizada ou com a massificação da manufatura possibilitada pela eletricidade, entre os séculos XVIII e XIX.

Aliás, vivemos já hoje uma situação paradoxal ao nível do emprego na Europa. Se, por um lado, há a ameaça de exclusão de várias atividades do mercado de trabalho, por outro, é sabido que os países europeus têm um elevadíssimo défice de recursos humanos qualificados. Por exemplo, verifica-se um acentuado desfasamento entre o ritmo e amplitude da criação de emprego no setor das TIC e o número de pessoas formadas anualmente nas áreas tecnológicas, com repercussões na produtividade e competitividade das empresas europeias.

Perante o novo paradigma laboral, as sociedades têm de saber reagir e preparar-se para as atuais (e futuras) necessidades do mercado de trabalho. Creio, aliás, que já estão a fazê-lo, inclusivamente em Portugal. No último concurso de acesso ao ensino superior português, cinco dos dez cursos que registaram as médias de entrada mais elevadas eram de engenharia: Engenharia Aeroespacial, Engenharia Física Tecnológica, Engenharia e Gestão Industrial, Bioengenharia e Engenharia Biomédica. Isto traduz a crescente procura de cursos eminentemente tecnológicos pelos estudantes, motivada, em boa medida, pelas perspetivas de integração profissional abertas pela economia do conhecimento.

De facto, a capacidade de reagir às transformações do mercado de trabalho vai depender muito da evolução do ensino. Antes de mais, é fundamental que a formação tecnológica seja transversal aos vários ciclos de ensino e áreas de estudo. Parece-me crucial familiarizar as crianças, desde a escola primária, com as tecnologias digitais e, mais tarde, garantir que a formação tecnológica é obrigatória para todos os estudantes, independentemente das áreas curriculares. Também no ensino superior importa promover a interdisciplinaridade curricular, para que os estudantes, seja qual for o curso, obtenham competências diferenciadas e ganhem assim maior flexibilidade para se adequarem às dinâmicas do mercado de trabalho.

No curto prazo, parece-me urgente uma aposta na reconversão profissional de adultos, quer diplomados, quer com qualificações intermédias. Com este tipo de programas formativos, será possível desenvolver competências adequadas à indústria 4.0 em importantes faixas da população em idade ativa, particularmente nos desempregados.

Para tanto, há que melhorar a qualidade e atratividade dos centros de formação profissional, industrial e tecnológica, de forma a suprir, como já referi em anterior artigo, as necessidades de pessoal especializado com que a indústria portuguesa se debate. Estes centros são fundamentais tanto para a reconversão de atuais trabalhadores como para a formação de novos trabalhadores, com vantagens em termos de produtividade empresarial mas também de coesão social.