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Salário emocional. Quem disse que o dinheiro é tudo?

Não vem espelhado na folha de vencimento e pode ter a forma de muitas coisas. Chamam-lhe salário emocional e começa a ganhar adeptos entre as empresas que apostam na valorização do talento.
27 Janeiro 2017, 07h50

Há coisas, simples gestos até, que não têm preço, nem para quem as faz nem para quem as recebe. Um SMS do administrador na data de aniversário, uma rosa à chegada ao trabalho no Dia Internacional da Mulher… Há outras mais substantivas. Trazer o filho de manhã quando se vem trabalhar porque a empresa tem uma creche na porta ao lado ou poder trabalhar a partir de casa naquelas manhãs geladas de inverno…

A ligação entre as pessoas e a empresa onde trabalham e entre a empresa e as pessoas constrói-se no dia a dia a partir de pequenos gestos e soluções inovadoras, sendo fundamental para cimentar a cultura empresarial, impulsionar a motivação e obter ganhos de produtividade.

“Existe a tendência de pensar que a melhor motivação passa pela retribuição salarial. É verdade que o trabalho tem de ser recompensado com um salário digno e adequado às funções e responsabilidade que desempenhamos, no entanto, pensar que o dinheiro é sempre a melhor motivação e a melhor compensação pode ser um equívoco…”, sublinha ao Jornal Económico Cláudia Vicente, diretora geral da empresa de formação GALILEU.

Na opinião da gestora, cada vez mais as pessoas são motivadas pelas mais diversas retribuições não económicas, que, por essa razão, cada vez mais são praticadas pelas organizações.

São muitas as estratégias utilizadas pelas empresas para atribuir o salário emocional. Ou soft benefits, como também se diz. Entram nesta designação o horário flexível, o trabalho à distância, benefícios sociais como seguros de saúde ou educação dos filhos, espaços de lazer dentro das empresas como, por exemplo, sala de jogos, sala de descanso, ginásio, etc., ajudas com pagamento de formação, atividades de voluntariado, entre outras. No conceito de salário emocional entram, assim, todas as retribuições não económicas que o colaborador pode obter da empresa. Isto é, tudo o que não vem espelhado num recibo de vencimento, como explica Madalena Rei de Sá, diretora de Recursos Humanos da JP inspiring knowledge: “É aquele ‘salário’ que faz com que as pessoas sintam prazer em ir trabalhar todos os dias. São, por vezes, pormenores ou ‘coisas dos recursos humanos’ e não tão fáceis de medir, mas que, no final, fazem com que as pessoas se entreguem de corpo e alma.”

O conceito de salário emocional bebe  no conceito de Felicidade Interna Bruta. Criado em 1972 no Butão, pequeno país da cordilheira dos Himalaias, entre o Nepal e o Tibete, e adotado mais tarde pela Organização das nações Unidas, este índice procura medir a realização pessoal dos habitantes para avaliar o desenvolvimento do país. O reverso da medalha num mundo pós-moderno marcado pelo individualismo extremo e o desapego interpessoal.

O estado da arte em Portugal
A temática tem merecido ultimamente alguma reflexão na GALILEU, com a organização de dois World Café, um em Lisboa e outro no Porto, onde juntou cerca de 60 responsáveis de Recursos Humanos de todo o país, para debater a importância do salário emocional e o seu impacto na vida de colaboradores, organizações e comunidade em geral.

Ao Jornal Económico, Cláudia Vicente faz um balanço extremamente positivo do que lhe foi dado ouvir: das empresas representadas, cerca de 85% tinham já algumas medidas de salário emocional implementadas, estando sensibilizadas para os benefícios desta política, para a importância da sua comunicação e para os desafios da sua implementação.

A boa aceitação destas práticas está associada à mudança de paradigma. Num mundo onde a tecnologia assume um poder crescente, os recursos humanos são cada vez mais o fator de diferenciação nas empresas. “Implementar medidas de salário emocional contribui para a retenção de talentos e é muitas das vezes a chave para consolidar a competitividade e a produtividade”.

Com vantagens evidentes para ambos os lados. “O investimento na ligação afetiva entre os colaboradores e a empresa aumenta o bem-estar, a satisfação e os níveis de felicidade dos colaboradores, contribuindo para o compromisso e a fidelização face à organização onde prestam serviço”.

O salário emocional não é igual em todas as organizações e dentro das organizações não é igual para todos os colaboradores. Para “ser eficaz”, deveria “ser adaptado à realidade de cada país, organização e colaborador e, nesse sentido “é difícil e injusto” comparar o salário emocional entre países. Ainda assim, Cláudia Vicente faz uma avaliação positiva do país comparativamente à vizinhança: “Apesar de ainda haver um longo caminho a percorrer no campo do salário emocional, é verdade que em Portugal já muito é feito atualmente em organizações com as mais variadas caraterísticas”.

Portugal é um país muito desigual, com um tecido empresarial que vai do muito bom ao muito mau, independentemente da dimensão das unidades. Três empresas explicaram ao Jornal Económico o que estão a fazer no plano do salário emocional: JP inspiring knowledge, empresa portuguesa com 200 pessoas;  EDP, com um total de cerca de 12 mil trabalhadores no conjunto dos países onde está presente, e 3M,  multinacional com 90 mil empregos. Cada qual à sua maneira faz do salário emocional uma prática, que se deseja venha a ser replicada em muitos lados.

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