Os ingleses são protestantes e as eleições locais do passado dia 2 de maio foram mais um sinal, com a derrota estrondosa dos Conservadores. Estavam em causa os lugares de 2655 eleitos locais em 107 Conselhos Municipais, 11 Presidências de Câmara e 25 membros da Assembleia de Londres.

Os Trabalhistas passaram a controlar 51 Conselhos, mais 8, com 1158 conselheiros eleitos, mais 186, enquanto os Conservadores foram reduzidos a 6, uma perda de 10, com apenas 515 conselheiros, menos 474 – quase metade. Mais notável, os Liberais-democratas ganharam controlo de mais 2 Conselhos, tendo 12, o dobro dos Conservadores, e elegeram 522 conselheiros, mais 104, e são agora a segunda força local.

O desaire deveu-se sobretudo às elevadas taxas de juro e o que são para quem paga casa, e aos vários casos à volta de figuras políticas do Partido Conservador. Um voto de protesto, que pode castigar os Conservadores nas eleições gerais do fim deste ano; já foram os protestos a acabar com o reinado de Thatcher, quando a Poll Tax fez transbordar o copo.

Esta situação tem paralelo com o que se passa nos EUA, onde é incerto o impacto das manifestações contra a situação na Palestina, que criam um clima de insegurança que pode beneficiar Trump. Faz-se um paralelo com os protestos do final dos anos 60, mas é falacioso – na altura os EUA estavam diretamente envolvidos, com a presença militar no Vietname, e as manifestações tinham muito mais expressão: a marcha de 1967 em Nova Iorque teve meio milhão de pessoas. Mas os dados estão lançados, com algo a sacudir a mesa.

Protesta-se de muitas formas. Sempre me intrigou o Taxman, do “Revolver”, dos Beatles. Escrito por Harrison, com ajuda de Lennon, protesta contra os dois pagarem no rendimento que ultrapassava 200 mil libras (cinco milhões hoje) um imposto de 95% (there’s 1 for you, 19 for me/‘cause I’m the taxman); chega a ser violento, mais adiante: se se sentar, eu taxo o assento/se estiver frio, taxo o aquecimento/se for andar, taxo-lhe os pés.

O curioso é que eles não declararam ao Banco de Inglaterra os rendimentos do estrangeiro, mas o Fisco optou por não o reportar – não era vingativo. Se lhe parece duro, a escritora sueca Astrid Lindgren, a da “Pipi das Meias Altas”, relatou em 1976 no Pomperipossa in Monismania que pagava uma taxa marginal de 102%, o que levou à alteração da lei fiscal e contribuiu para a queda do governo. Atribui-se a Bismarck a afirmação: ninguém deve saber como se fazem as leis e as salsichas. Concordo nas salsichas.