As recentes semanas de confinamento social, devido à pandemia de Covid-19, trouxeram grandes desafios à vida das populações e à economia em geral. Os mercados financeiros em todo o mundo demonstraram elevados níveis de incerteza e instabilidade, o que levou a restrições à eficiência desses mesmos mercados.
A volatilidade que surgiu no sistema financeiro fez com que os investidores reagissem negativamente às quedas e perdas extremamente avultadas. Deste modo, a SEC – Securities and Exchange Commission procedeu à introdução de “circuit breakers”, um mecanismo que permite parar as negociações do mercado por um determinado período em caso de quedas bruscas e acentuadas. Estas intervenções, cujo intuito é evitar situações de pânico no mercado, podem ser aplicadas apenas a um índice ou uma ação em específico.
Os primeiros dois níveis de paragem de negociação têm uma duração de 15 minutos, caso haja uma queda igual ou superior a 7% e 13%. O terceiro nível (quedas de 20%) implica uma paragem nas negociações que se prolonga até ao final do dia.
Só no mês de março, a paragem de nível 1 foi aplicada quatro vezes ao mercado inteiro – situação que ilustra bem o grau de incerteza que se vive atualmente, em particular se tivermos em consideração que esta ferramenta foi usada apenas uma vez pelos reguladores em outubro de 1987. Consequentemente, reguladores em Itália, França, Bélgica, Grécia, Áustria e Espanha criaram restrições temporárias que evitam “sell-offs” de certas ações de forma a mitigar perdas significativas.
Contudo, é também importante dar crédito às entidades com poder de decisão, como reguladores e bancos centrais, que têm sido capazes, até ao momento, de conter o cenário desastroso que teríamos no caso de os mercados acionistas terem permanecido encerrados por um longo período de tempo, tal como sucedeu com a Bolsa de Valores de Nova Iorque (NYSE) depois dos ataques de 11 de setembro.
Estas grandes paragens inesperadas dos mercados, que historicamente acontecem em circunstâncias extremas e excecionais, são ameaças reais à sobrevivência de um vasto leque de empresas.
Posto isto, os “circuit breakers” em mercados eficientes acontecem, normalmente, em circunstâncias que provocam um impacto considerável, positivo ou negativo, no preço de uma ação. Contrariamente às situações descritas acima, estas decisões são tomadas pelos reguladores em antecipação ao lançamento de uma notícia resultante de um erro técnico ou de preocupações ao nível da regulação interna.
Alguns exemplos recentes deste tipo de intervenções incluem a paragem das negociações sobre três farmacêuticas, a 4 de maio, devido à falta de precisão na informação disponível publicamente relativa a uma vacina contra a Covid-19.
Esta foi uma das recentes ações tomadas pelos reguladores dos EUA para travar a divulgação de falsas informações sobre testes, terapias ou equipamento relativos ao vírus. O regulador interrompeu as negociações da CNS Pharmaceuticals Inc., Moleculin Biotech e também da farmacêutica canadiana WPD Pharmaceuticals Inc. A decisão foi tomada a 15 de maio, mas manteve o efeito pendente de novas investigações.
Outro caso interessante remete para a intervenção da SEC, a 26 de março, quando suspendeu as negociações da Zoom Technology Inc. (Ticker: ZOOM) até 8 de abril, depois do seu preço ter aumentado substancialmente, refletindo a confusão dos investidores com a popular empresa de reuniões virtuais Zoom Video Communications Inc. (Ticker: ZM). A semelhança do nome levou alguns investidores a comprarem títulos da empresa errada, e fez com que o preço das ações da Zoom Technology Inc. mais do que triplicasse em menos de seis semanas.
Existem muitos outros exemplos que poderiam ser referidos dado o número de casos em que a intervenção da SEC foi necessária, por isso sugiro que neste tempo difícil prestemos ainda mais atenção ao ponto de vista do investidor. Se tais intervenções não tivessem lugar, muitos investidores acabariam por manter ações de empresas que não conhecem, ou de empresas que anunciam notícias falsas como a de estarem envolvidas em mercados em crescimento, ou ainda informações imprecisas, como o caso da pesquisa por uma vacina que poderia salvar-nos da pandemia.
Tais práticas ilegais tendem a fazer disparar o preço das ações, como também vimos acontecer durante o boom das criptomoedas e blockchain em 2017. Estas são as razões pelas quais os reguladores têm tanta responsabilidade sobre os mercados, assegurando que a informação disponível está correta, evitando assim situações de pânico ou perdas irreparáveis.
Os investidores, por outro lado, devem observar e analisar atentamente as oportunidades de investimento, tomando decisões baseadas apenas em fontes fidedignas, incluindo também as intervenções feitas pelas autoridades e reguladores, que podem ajudar a prevenir investimentos imprecisos ou indesejáveis.