Marine Le Pen e Matteo Salvini juntos em Roma são um acontecimento. E são também uma dos de cabeça para o grupo que, cada vez mais, é o ‘inimigo’ a abater pelos dirigentes da ultra-direita europeia: “Os inimigos da Europa estão no bunker de Bruxelas. Eles são [Jean-Claude] Juncker e [Pierre] Moscovici. Trouxeram precariedade e pobreza e estão apegados aos seus lugares. Estamos a tentar restaurar a prosperidade de 500 milhões de europeus”, disse o líder da Liga antes da reunião com Le Pen.
A envolvente é a guerrilha que Bruxelas tem mantido com Roma a propósito do orçamento do Estado italiano para 2019. A proposta do governo de coligação – que junta a Liga de Salvini com o Movimento 5 Estrelas de Luigi Di Maio – mereceu pública e notória reprovação por parte da Comissão Europeia, com o comissário Pierre Moscovici a assumir a ‘despesa’ política do ‘puxão de orelhas’.
Que, como seria de esperar e Bruxelas há-de ter antecipado, foi muito mal recebido em Itália, tanto pelo governo como pelos deputados – com alguns a envolverem-se numa guerra de palavras com o comissário.
A reunião entre Salvini, ministro do Interior, e Le Pen é por isso mais muito mais que um simples encontro entre dois líderes do mesmo lado da barricada: é a assunção de que a ultradireita anti-europeísta está a encarar as eleições de maio de 2019 para o Parlamento Europeu como um passo definitivamente importante na ‘cruzada’ contra os ‘senhores’ de Bruxelas.
Para já – e ao contrário do que gostaria Steve Bannon, antigo conselheiro de Donald Trump que se tem intrometido no andamento da ultradireita europeia – a intenção é a de que, em cada país, cada partido concorra por si: nada de listas conjuntas, uma vez que o sentimento nacionalista podia, pela falta de hábito, sair beliscado.
Salvini, assumindo cada vez mais a condição de líder deste novo movimento europeu, não escondeu o objetivo: “em maio iremos remover os socialistas do poder e voltar ao centro do debate sobre trabalho, controlo das fronteiras, proteção da família, acordos comerciais que ferem os nossos comerciantes. Não podemos ser escravos de défice”.
Para ambos, tanto Jean-Claude Juncker como Pierre Moscovici defendem interesses ocultos e por isso traíram os europeus. Le Pen resumiu a ideia: “a União Europeia não foi construída para o povo, para a sua prosperidade, mas para reforçar o poder de uma pequena classe mundial que gera muito dinheiro. A União opõe-se ao poder do povo e fá-lo através de ameaças, extorsões e resultados que não o justificam: imigração maciça, salários mais baixos. Tudo isso é a globalização. E a globalização selvagem é como os restaurantes; o último a sair paga a conta”.
Salvini, por seu turno, lembrou-se que a extrema-direita copia a agenda política da esquerda, e não quis deixar de comentar: “estamos a recolher valores de uma esquerda que traiu os trabalhadores. Ajudamos muitos precários e desempregados que a esquerda abandonou. Acredito que na sede do PD [Partido Democrático] e dos socialistas entram mais banqueiros que trabalhadores”. “A esquerda tem um grande interesse na imigração ilimitada porque precisa de novos escravos para as indústrias europeias”, referiu ainda.
E Le Pen, que não ‘morre de amores’ por Bannon – criador do The Movement – também se lembrou dele: “não é europeu, é norte-americano. Sugeriu aos nacionalistas a criação de uma base de estudos, pesquisas e análises aqui em Itália. Mas a força política somos nós e só nós vamos estruturá-la. Quero que isso fique extremamente claro”.
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