A Samba Digital nasceu no Brasil, instalou-se nos Estados Unidos e está agora cotada em Lisboa. Já o seu fundador Frederic Fausser nasceu em França, mas vive no Brasil, com o negócio sediado nos Estados Unidos.
A companhia de marketing digital desportivo inicia um aumento de capital esta segunda-feira, com o objetivo de angariar 4 milhões de euros para fomentar o seu desenvolvimento com uso de Inteligência Artificial (IA).
Em conversa com o Jornal Económico, Frederic Fausser explica a visão para a empresa que tem como clientes o PSG ou o Bayern de Munique: uma maior aposta no mercado norte-americano e a diversificação do seu portefólio para incluir mais desportos.
A empresa registou receitas de quase 4 milhões de euros nos primeiros seis meses de 2024 face a período homólogo, mais 56%, segundo os resultados divulgados na semana passada. A receita operacional atingiu os 830 mil euros, com uma margem de 21%, mais 26%. lucro atingiu os 645 mil euros, mais 24%, com uma margem de 16%.
A companhia vai desenvolver um centro de Investigação & Desenvolvimento dedicado à IA, com o “objetivo de criar várias aplicações ao mercado nos próximos 24 meses, com o objetivo de poupar 30% do tempo de trabalho aos gestores de comunicado empregados por organizações desportivas. A Samba Digital está atualmente a explorar a melhor localização para este centro, que pode ficar em Portugal ou no Brasil”, anunciou a companhia esta semana.
O mundo conta atualmente com 2,6 mil milhões de adeptos de desporto e este valor deverá disparar para os 3,6 mil milhões de adeptos: mais mil milhões em cinco anos, segundo os dados da GWI.
Em termos de valor, o mercado europeu de futebol vale 30 mil milhões de euros.
Para que é que vai servir este novo financiamento?
Dentro dos 4 milhões de euros, 2,7 milhões destinam-se à Inteligência Artificial para quatro anos de desenvolvimento. Depois temos, 500 mil de go to market, não é só desenvolver, mas também vender, para o marketing e comercial. Depois 800 mil para os fundos próprios da empresa, com o crescimento precisamos de cash flow. É importante ter solidez financeira.
O centro de IA pode ficar em Portugal?
Se for um fundo de investimento europeu, a tendência seria de exigir um centro na Europa. Estamos a conversar com vários tanto em Portugal quanto na França.
Vão entrar em novos mercados? Vão fortalecer onde já estão presentes?
O nosso foco nos próximos anos a nível internacional é o mercado norte-americano e o LATAM (latino americano). Em 2026, temos o Mundial de Clubes nos Estados Unidos em julho; depois, a Copa do Mundo, e depois os Jogos Olímpicos. É um calendário muito interessante.
Já temos clientes fortes nos Estados Unidos, como os Kansas City Chiefs, vencedores do Superbowl, e os Miami Dolphins (ambos de futebol americano) e os Orlando Magic da NBA.
Falei de LATAM porque temos a Copa do Mundo, nos EUA, mas também no México e Canadá. Olhando para os números, vemos que quem se interessa mais por futebol nos EUA é o público hispânico, que fala espanhol, mas há cada vez mais brasileiros também, ainda mais na Florida. Principalmente em Orlando: 20% dos bilhetes dos Orlando Magic é para brasileiros. É este o nosso DNA, temos que fazer a diferença no mercado americano, que está a procurar seduzir essa audiência mais latina.
Os EUA são a nova meca do desporto nos próximos anos?
Claro, já são hoje. Isso é também bastante positivo para a Samba, ajudou-a muito a crescer. Agora, os Estados Unidos vão ser o centro das atenções a nível mundial, com o calendário.
Historicamente, as marcas americanas eram muito focadas no seu mercado. Hoje há um processo de internacionalização que começou com a NBA, depois foi para NFL, futebol americano. Tem jogo na Alemanha, agora na Inglaterra. No Brasil, teve um jogo recentemente.
Então, tem uma aceleração da internacionalização, da globalização da parte do mercado americano, o que nos deu uma vantagem, porque trabalhamos com a internacionalização de marcas. Então, esse é um contexto muito favorável.
O que é que esperam atingir em 2024 em termos de resultados financeiros?
Devemos atingir 7,7 milhões de euros de receitas, 8 milhões de dólares. Para 2025, a previsão é atingir 11,7 milhões de euros. Atingimos a nossa meta, de atingir 2,5 milhões de EBIT.
Que clientes é que têm no futebol europeu? E têm novos clientes debaixo de olho?
Sim, temos mais de 120 clientes hoje no mundo, o futebol representa 60%-70% do nosso portefólio, que é cada vez mais diversificado. Além de NFL e NBA, já trabalhamos com Roland Garros, com US Open, Fórmula Um, Ryder Cup no golfe.
Uma das estratégias, que vai impulsionar o crescimento da Samba vai passar pelo patrocinador, porque hoje o orçamento está lá. O patrocinador interessa-se cada vez mais pelo digital. 70% dos investimentos no mundo em marketing é no digital, então temos aqui um papel preponderante.
Recentemente, fechámos com os San Antonio Spurs, para a digressão deles em França.
Estamos hoje em 50 países… se existe uma marca americana que quer fazer algo em França, Espanha, Inglaterra, fazemos. A nossa empresa está nos Estados Unidos, mas somos considerados europeus. Sabe a dificuldade para uma empresa europeia fechar com um americano… isso mostra a nossa competência e que estamos no caminho certo.
Qual a diferença entre um cliente europeu e o norte-americano?
O nível de exigência e a expetativa de retorno dos americanos. Desde a proposta comercial… é preciso insistir nos números. Tem que explicar qual vai ser o retorno, os processos, as garantias que têm de ter um mínimo de sucesso. São muito mais agressivos, no bom sentido, na parte de negócios e da negociação. Querem assim, ficam tranquilos quando fecham. Querem ter uma garantia que vai funcionar.
Temos vindo a construir desde 2012, hoje cuidamos de mais de 900 milhões de fãs em todo o mundo., pegando em todos os 120 clubes e todas as redes sociais.
A Samba criou 30 milhões de dólares para os seus clientes em 2024, com a monetização, extensão dos acordos de patrocínio atual em outros países, novas parcerias. Tem muita forma de monetizar. Só em seis meses criámos seis milhões de novos fãs para os nossos clientes.
Entraram no índice Euronext Growth recentemente. O que esperam?
É uma bolsa com um nível superior. Esperamos mais visibilidade, liquidez, transações. O mercado vai ser um bom teste para ver a aceitação do produto.
A Samba foi criada em 2018 com mil dólares, hoje faturamos 8 milhões de dólares. Tivemos um EBIT de 25% em 2024, foi sempre um crescimento controlado.
Muitos perguntam-me porque viemos para a bolsa em Portugal? É que hoje ainda não temos tamanho suficiente e força financeira para entrar no Nasdaq. Mas quero ter até 2030.
Também nada me impede de daqui a alguns meses ter uma dupla cotação em Paris e em 2030 ir para o Nasdaq.
Sou uma pessoa ambiciosa, tenho uma empresas que ganhou dinheiro desde o primeiro cliente. Está dentro do digital, do desporto. Hoje um clube como o Chelsea, PSG, Bayern de Munique, apenas uma pequena parte da base de fãs é nacional. O Benfica tem mais fãs fora de Portugal do que em Portugal, através das redes sociais.
Os grandes clubes têm quase 10 redes sociais, com línguas diferentes, cada vez mais complexas, mais sofisticadas, novos formatos. O contexto é muito favorável para o crescimento da Samba. Tivemos 27 trimestres consecutivos de crescimento de 40%.
Eu e o outro sócio histórico temos 90% da empresa.
É fácil explicar às pessoas do mundo do futebol a necessidade do marketing digital?
Temos os 70% de investimento global de marketing no digital. É uma tendência não só no desporto, mas global. Um número que gosto de usar é o da NFL do futebol americano: a segunda fonte de receitas deles vem da venda de direitos digitais. Tudo começa nos EUA e depois vai para a Europa e depois o resto do mund.
Os patrocinadores têm peso na camisa, mas estão a analisar cada vez mais o retorno digital e consegue-se analisar de forma direta [o retorno nas redes sociais].
Como é que surgiu o Samba Digital?
Sempre fui um apaixonado do futebol brasileiro. Desde adolescente comecei a gostar do futebol brasileiro na Copa do Mundo 94, quando o Brasil ganhou da Itália, apesar que torci pela Itália. Eu comecei a desenvolver uma paixão, realmente uma paixão. Eu acho que é importante explicar que não é só um projeto financeiro, empresarial. Minha vida está conectada com a samba digital. Minha vida está conectada com o Brasil e também com Portugal, porque minha mãe portuguesa saiu de Portugal com sete anos. Ele tem uma avó. Eu tenho família em Grândola, no Alentejo. Então vai muito além do projeto empresarial.
Aí depois eu criei um blog que se chama Samba Pontocom. Foi um blogue que se tornou numa referência sobre o futebol brasileiro fora do Brasil. Na época que o Brasil tinha uma seleção com grandes jogadores. Desenvolvi o site, que chegou a 1 milhão de visitantes mensal na Copa do Mundo 2006 e depois vendemos. Na altura, criou um troféu que ainda existe. o Samba de Ouro, que é a recompensa do melhor jogador brasileiro fora do Brasil. Então tive a oportunidade de recompensar e entregar um troféu pessoalmente para o Kaká, para o Thiago Silva, o Neymar, os maiores brasileiros, durante dez anos. Isso ajudou a criar um ponto de ligação com os clubes, porque quando você quer entregar o troféu para um jogador, tem que falar com o Barcelona, com PSG, permitiu-me aproximar dos clubes. Em 2001, o PSG ligou-me a perguntar se eu conhecia o Twitter; eu respondi, ‘o que vocês precisam?”. Eles queriam lançar um perfil em português para o público brasileiro… eu morava no Brasil e comecei assim: Twitter do PSG para o público brasileiro. Lançamos depois novas redes sociais, novos idiomas, novos clientes.
Para si, qual é o melhor jogador brasileiro de sempre?
Vi jogos do Pelé, mas era uma época completamente diferente. O jogo era lento, como se vê nos vídeos. Não dá para comparar muito. Mas vi o Ronaldo Fenómeno a jogar. Foi fantástico. Foi o que me impressionou mais até hoje.
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