Samuel Fernandes de Almeida, sócio da área fiscal da VdA, apresenta um conjunto de propostas de medidas ficais para as empresas para mitigar os efeitos da pandemia na economia e ajudar na recuperação. Fiscalista defende que muitas destas medidas já deveriam estar contempladas no retificativo para serem aplicadas de imediato, considerando ainda que o acesso a financiamento e liquidez são as medidas essenciais para as PME. Ao nível das famílias sugere a redução das taxas de retenção na fonte de IRS para permitir uma maior liquidez mensal.
Como é que será a recuperação económica? Esta é uma crise diferente, que não foi motivada por desequilíbrios macroeconómicos, a retoma poderá ser, por isso, mais rápida?
Julgo que é prematuro fazer grandes previsões nesta fase, pois desconhecemos duração da pandemia e sobretudo se ocorrerá uma segunda fase de confinamento que seria muito impactante em termos económicos. Em teoria, a retoma deverá ser mais célere mas depende igualmente do grau de destruição do tecido empresarial. Existem setores como a aviação em que apenas se prevê retomar os mesmos níveis de atividade a partir de 2022/2023. Haverá setores de rápida recuperação e outros fortemente condicionados pelas condições de saúde, mesmo em desconfinamento gradual.
O aumento de impostos será inevitável?
Parece existir algum consenso que neste momento quaisquer medidas de austeridade apenas contribuirão para uma maior desaceleração e aprofundamento da crise. É expectável uma fase de expansão orçamental com diversas medidas de apoio à economia (fiscais e extra fiscais) e numa fase subsequente a reposição de medidas para reequilíbrio orçamental. Dependerá muito de país para país, da capacidade de intervenção global da UE a esta crise e do impacto da crise sanitária em termos económicos. Países fortemente expostos a certos mercados ou à venda de crude tenderão a ter crises mais profundas.
Após o confinamento, quais as medidas fiscais que deviam ser tomadas para as empresas?
Do ponto de vista fiscal parece-me que as medidas deverão centrar-se em três eixos, apoio à liquidez, apoio ao investimento e capacidade de financiamento e apoio às famílias. Deixo algumas sugestões: o alargamento do prazo de reporte de prejuízos (para a frente) e com um prazo temporal determinado para eventual reversão da medida; o aumento do limite de um milhão em termos de EBITDA fiscal em relação aos limites ao endividamento; o aumento dos rácios de endividamento para efeitos de subcapitalização; a redução do Imposto do Selo sobre financiamento afeto a atividades produtivas e depreciações aceleradas para certos bens de investimento.
Sugiro ainda o reforço dos apoios fiscais para start ups face à dificuldades destas entidades acederem a financiamento, o reforço dos limites e benefícios fiscais à capitalização das empresas e a suspensão em 2020 dos pagamentos por conta e especial por conta para PME. E também a eliminação de restrições – exceto em casos de falta de substância económica, nomeadamente limite de 50% nas mudanças de controlo para efeitos de continuação do reporte de prejuízos, bem como a reposição dos incentivos em sede de IRC para a contratação de desempregados (outro flagelo a combater no imediato).
Para 2021 deveria ser equacionado um pacote de medidas mais direcionado para o turismo e imobiliário, isto na eventualidade de se confirmar a dificuldade de retoma destes setores.
O OE retificativo deve já sinalizar essas medidas para 2021 para dar previsibilidade aos agentes económicos?
Muitas destas medidas já deveriam estar contempladas no retificativo de forma a serem aplicadas de imediato e no exercício fiscal de 2020.
Como pode o Governo aumentar ‘o poder de fogo’ das PME?
O acesso a financiamento e liquidez são as medidas essenciais para as PME. Algumas das medidas que assinalei são precisamente destinadas a este efeito.
Que medidas fiscais deviam ser tomadas para aumentar o investimento? Recuperar o super crédito fiscal seria uma boa medida?
Poderia ajudar, Uma das medidas críticas passa por não implementar as alterações anunciadas em termos de golden visa, pois este instrumento e o RNH (Residentes Não Habituais) são dois poderosos fatores de atração do país, sobretudo para os setores do turismo, restauração e imobiliário. Diria que outra medida a considerar para 2021 seria um plano de medidas destinadas a incentivar investimentos em projetos de elevada componente tecnológica, agricultura sustentável e saúde. Estes são setores que vão crescer com a crise.
A redução do IVA na restauração faz sentido pata apoiar o setor?
Teria de ser calculado o impacto orçamental mas a anterior redução já custou mais de 400 milhões de euros. Talvez existam outras medidas menos onerosas em termos orçamentais.
E ao nível da manutenção do emprego deviam ser reforçados os incentivos fiscais?
Essa é uma área crítica pois findo os lay off e as medidas de apoio, as empresas poderão despedir ao final de 60 dias. Fiz uma proposta para incentivo à contratação líquida.
Para as famílias que medidas fiscais deviam ser tomadas? Há condições para retomar a reforma do IRS em 2021, nomeadamente o prometido alívio fiscal à classe média?
Não sei se existem condições para uma revisão e baixa significativa dos escalões já em 2021. Creio que um aumento das deduções à coleta já teria um impacto significativo no IRS a pagar, assim como uma redução das taxas de retenção na fonte de IRS, permitindo maior liquidez mensal às famílias.
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