“Iniciei funções de Diretor na Microsoft em Novembro, na área de Desenvolvimento de Negócio e Estratégia. A minha equipa é responsável por parcerias com grandes empresas na área da saúde para acelerar a transformação digital (Inteligência Artificial, Cloud, Internet of Things, Blockchain, Big Data, etc.). Estas parcerias exigem o desenvolvimento de uma visão estratégica, de modelos de negócio e a coordenação de várias equipas internas que apoiam o cliente na execução. A minha equipa é responsável por este processo. É sem dúvida uma oportunidade única para aprender mais sobre este setor, num período de revolução tecnológica que irá afetar hospitais, médicos, seguradoras, indústria farmacêutica ou farmácias”, diz ao Jornal Económico.
Samuel Martins, natural de Porto de Mós, tinha um dos cargos de maior responsabilidade na Fundação Bill e Melinda Gates: diretor-adjunto de Estratégia, Planeamento e Gestão das equipas de desenvolvimento de produtos: “Vaccine Development” e “Integrated Development”. Estas equipas apoiam o desenvolvimento de novas vacinas, medicamentos, diagnósticos e outras ferramentas.
“Estava na fundação há cerca de cinco anos e meio e, apesar de estar tudo a correr bastante bem, tinha noção de que seria difícil subir mais na estrutura (o nível acima do meu é para profissionais especializados, tipicamente com mais 20 anos de experiência do que eu). Comecei assim a explorar potenciais alternativas no mundo corporativo, idealmente relacionadas com a aplicação de novas tecnologias na área da saúde. Foi uma decisão difícil, dada a nobre missão da fundação e a possibilidade de interagir regularmente com o Bill e a Melinda e toda a sua envolvente. Mas não tenho dúvidas de que a mudança para a Microsoft foi a decisão acertada nesta fase da minha carreira”, diz ao Jornal Económico.
Em Seattle, a cidade onde vive com a família, os dias de trabalho são longos. Começa com chamadas telefónicas pela manhã porque muitos parceiros estão em outros pontos do mundo, e o fuso horário é de menos oito horas em relação a Lisboa.
Ao longo destes anos, os desafios profissionais passaram pela gestão de pessoal, execução dos investimentos e contactos com um dos homens mais ricos do mundo. “O Bill Gates é extremamente dedicado às suas causas: passa bastante tempo a aprender sobre os assuntos, incluindo a parte técnica e científica, para poder contribuir e ajudar as equipas a definir as suas estratégias. Mantém-se, assim, muito próximo do dia-a-dia. Tem uma paciência surpreendente para projetos que não são bem-sucedidos, focando-se em aprender com os erros e continuar a arriscar”, conta.
Samuel, que ainda pensou em ser médico, tirou o curso de Engenharia Física Tecnológia no Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, com média de 19 valores.
Teve o primeiro emprego como investigador num grupo científico no IST no segundo ano do curso (2002). Continuou esse trabalho até ao final do curso, em 2005. Nessa altura, entrou na McKinsey & Company como Business Analyst. Em 2007, voltou ao Instituto, para o doutoramento em Física, que terminou em 2010 – recebeu o prémio IBM Portugal, no valor de 15 mil euros, que distingue o trabalho de doutoramento desenvolvido na área da Física das Partículas.
Regressou à consultora entre 2010 e 2013 e daí seguiu para a Fundação. “A experiência na McKinsey foi única, com uma aprendizagem alucinante em áreas muito distintas: trabalhei em companhias aéreas, construtoras, bancos, seguradoras, entre outras, incluindo estratégia, operações, marketing, vendas, etc. Trabalhei em Portugal, Suíça, Inglaterra, Grécia e Angola. Um ritmo muito rápido, muitas horas no escritório, muitas viagens e picos de stress, mas com um sentimento muito forte de impacto na sociedade e na vida de muitas pessoas”, acrescenta.
De Portugal para Seattle
A chegada à Fundação do casal Gates aconteceu por concurso. “Comecei a ganhar interesse por este tipo de organizações e percebi que a Fundação Bill e Melinda Gates seria uma excelente opção: reconhecimento internacional, em particular na área de saúde, posicionamento mais estratégico (menos operacional) e bem financiada. Submeti uma candidatura e acabei por conseguir uma posição de ‘Program Officer’ na área de Saúde Global em 2013. Em 2015, fui promovido a ‘Senior Strategy Officer’”.
A nível profissional, Samuel, de 36 anos, destaca a possibilidade de os EUA oferecerem oportunidades que não existem em Portugal. “O mundo corporativo americano é reconhecido como um dos mais exigentes”, afirma.
A nível pessoal, considera que o país é “fantástico para viver”. “Esta zona dos EUA (Noroeste Pacífico) é também reconhecida por ter uma natureza fora do comum. Por último, Seattle é uma cidade com uma qualidade de vida muito adequada a famílias”.
O diretor não põe de parte o regresso a Portugal. “Vai depender da evolução profissional e pessoal aqui em Seattle e das oportunidades que possam surgir”, confessa.
A vontade constante de aprender é uma das suas principais características. “Acho que devemos sempre acreditar mas, mais do que isso, trabalhar. Nada se consegue sem dedicação e sem esforço. Isto deverá aliar-se a uma atitude mais positiva e mais proativa. Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti. Pergunta antes o que podes fazer pelo teu país”, disse em 2011, numa publicação municipal de Porto de Mós.
Por enquanto, aproveita as férias para visitar a vila com a mulher Cláudia e os dois filhos. “Foi onde nasci, cresci e vivi até aos 18 anos. A família e muitos amigos estão em Porto de Mós. Também tenho saudades do castelo, dos pequenos recantos da vila que percorri durante tantos anos, da fórnea e das nossas serras”, relembra Samuel Martins.
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