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Santander, BCP, CGD, BPI e Novo Banco preocupados com o impacto do futuro malparado no capital

Os bancos alertam que depois da crise o setor pode voltar aos dois dígitos de NPL. “Depois de termos baixado de 17% para 5,5%, isto implica, para manter as taxas de cobertura atuais, um esforço grande em provisões. Se passarmos de 5,5% de rácio de NPL para 10% isso representa um reforço de provisões, nos bancos, na ordem dos 3 a 4 mil milhões de euros”, disse Miguel Belo de Carvalho do Santander Portugal.
20 Novembro 2020, 18h20

Na conferência Money Conference organizada pelo Dinheiro Vivo e a TSF, esta sexta-feira, num painel em que participaram António Ramalho, CEO do Novo Banco, Miguel Maya, presidente do BCP, João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI, Miguel Belo Carvalho, administrador do Santander Portugal e José João Guilherme, administrador da Caixa, foi debatido “a banca pós-Covid 19”.

Miguel Maya, presidente do BCP realçou que a banca portuguesa reagiu muito bem à crise da pandemia e lembrou que os bancos deram um “contributo muito positivo” à manutenção da estrutura produtiva da economia. “O equilíbrio entre as moratórias e os apoios públicos foi o adequado para conseguir manter essa estrutura produtiva”, disse.

O CEO do BCP alertou que o elevado peso da dívida pública compromete as medidas que o país pode tomar para fazer face à crise. Menos dívida permite os Estados darem mais apoios à economia, salientou e perante estas limitações, sobra para a banca o papel de ajudar a manter a economia. “Temos de apoiar empresas viáveis, porque destruir empresas viáveis é destruir capacidade produtiva, destruir a economia, destruir prosperidade, pelo que o risco é acabar com as moratórias antes da economia começar a mexer novamente”, disse o presidente do BCP, que também considera que apoiar empresas não viáveis é fazer má alocação de recursos.

Presidente executivo do BCP alerta para fim das moratórias “antes do tempo” devido à Covid-19, que pode destruir o tecido económico.

Nos setores mais afectados, como a restauração que ficaram sem cash-flow por causa o encerramento dos restaurantes, Miguel Maya defende que o Estado tem de dar mais apoio, “mas não se pode pedir à banca que concedam crédito se não houver capacidade de recuperar esse crédito”.

“O BCP está empenhado no desenho de soluções que possam ajudar os setores específicos, como a restauração, provavelmente com linhas específicas com garantias do Estado”, refere ainda o banqueiro.

Ao contrário, João Pedro Oliveira e Costa, CEO indigitado do BPI, explicou que sendo esta uma crise assimétrica, os apoios aos setores mais afectados, como a restauração, “não podem passar por mais dívida”, porque o problema de fundo está na geração de receitas. “Tem de se encontrar soluções, e o BPI está disponível”, disse o presidente do banco português do CaixaBank. “É fundamental que estes sectores, tão importantes, para a sociedade não desapareçam”, disse.

“Não sabíamos a duração da pandemia, e por isso as moratórias no apoio que deram à tesouraria das empresas foram fundamentais para manter a economia”, defendeu o CEO indigitado do BPI que afirmou que “é preciso defender o emprego”. “O que foi feito até à data pelo Estado foi muitíssimo bem feito, quer em termos de apoios quer da capacidade que o país tinha para apoiar no momento zero”, defende o gestor.

A proteção dos depósitos foi salientada por João Pedro Oliveira e Costa, que lembrou o aumento das poupanças dos portugueses com a pandemia.

É “uma grande vitória” a banca ter passado “despercebida” durante a crise pandémica, disse por sua vez António Ramalho, presidente do Novo Banco, que acrescentou “podemos beneficiar disso para começar a pensar logo na segunda fase, que é a de recuperação”

Já José João Guilherme, administrador da Caixa, salientou que no que toca aos apoios da banca à economia, o Banco Português de Fomento “tem de ter um objeto definido e ser capaz de trabalhar” com as instituições financeiras, e não se pode esquecer que “quase 100% das empresas portuguesas trabalham com algum de nós”, disse.

De acordo com José João Guilherme, a Caixa, enquanto banco do Estado, “estará disponível para ser um veículo de comercialização” dos produtos que venham a ser disponibilizados pelo Banco de Fomento. Questionado se já há conversas neste sentido, o gestor afirmou que “há conversas, mas há muito mais caminho a percorrer do que caminho percorrido”.

António Ramalho, CEO do Novo Banco também se mostrou favorável à criação do Banco de Fomento. Admitiu que tem havido contactos dos bancos comerciais com o Banco de Fomento, que está em criação por iniciativa do Estado, como instrumento de apoio às empresas. O lançamento vai depender da capacidade de capitalização, salientou.

O Banco de Fomento resulta da fusão da Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD) e da PME Investimentos na Sociedade Portuguesa de Garantia Mútua (SPGM), naquela que será uma solução que vai apoiar diretamente as empresas sem necessidade de intermediação do sistema bancário.

Por sua vez Miguel Belo de Carvalho, do Banco Santander, focou a sua intervenção no problema do mercado de trabalho dos jovens que saem agora das universidades. “Vamos ter uns trimestres pela frente em que vai haver algumas condições difíceis de adesão ao mercado de trabalho”, disse ao mesmo tem que defendeu que este é um tema que “devia ser incluído no Plano de Recuperação e Resiliência”, em especial o emprego jovem, “um dos temas mais importantes do próximo ano ou, eventualmente, dos próximos dois anos”.

“Temos mais de 20% dos clientes bancários com crédito, no sistema, nos vários segmentos, em regime de moratórias, o que compara com 7% da Europa e com Espanha apenas com 9%. Isso demonstra que Portugal adoptou critérios de elegibilidade bastante abrangentes de adesão às moratórias, e isso foi adequado” por causa da configuração da nossa economia, disse o administrador do banco português do Santander.

Miguel Belo de Carvalho disse ainda que acredita numa recuperação rápida da economia, porque “temos capacidade instalada” e porque “vai existir procura, apesar do aumento de desemprego”, mesmo admitindo que 2021 vai ser um ano duro.

As empresas estão descapitalizadas há muito tempo, perante isto António Ramalho preferiu salientar o lado positivo das empresas portuguesas que antes da pandemia já revelavam uma enorme capacidade exportadora. “Portugal já tinha 44,6% do PIB a vir das exportações em 2019 quando 15 anos antes era menos de 30%”.

O tecido empresarial ainda tem um endividamento excessivo. Mas não tão excessivo como há cinco anos atrás, lembra Ramalho.

“A banca tinha um rácio de NPL de 17% há três anos no sistema e agora, dados de junho, está em 5,5%”, lembrou também o CEO do Novo Banco. Ramalho reconheceu a importância de acautelar a capitalização da banca, e de reduzir o malparado, mesmo recorrendo à venda de carteiras de NPL.

Miguel Maya disse que na última década desapareceram empresas que não eram viáveis e que “vai desaparecer ainda um conjunto de empresas com algum significado. Mas não tem nada a ver com a crise anterior”, disse o responsável pelo BCP.

“A minha preocupação não são as empresas que já estão classificadas como NPE, são as empresas que podem aparecer como NPE”, disse o CEO do Millennium BCP que acredita, no entanto, que a vacina anti-Covid 19 está mais próxima e, portanto, acredita na recuperação da economia no futuro próximo.

O CEO do BPI, que parte de uma situação vantajosa face aos concorrentes que têm rácios de NPE mais elevados, disse que “não se pode hoje aplicar uma receita igual para todas as empresas e, portanto, a proximidade às empresas é um fator crítico”.

Miguel Belo de Carvalho explicou que os rácios de NPE estão intimamente ligados à capitalização da banca, e admitiu também que “estamos mais preocupado com o que aí vem do que com o que temos” e admitiu também que, numa lógica de proximidade, estão já a trabalhar soluções com os seus clientes para o cenário pós-moratórias, para evitar que o malparado obrigue a aumentos de capital nos bancos.

“Se pensarmos que depois desta crise voltamos aos dois dígitos de NPL, depois de termos baixado de 17% para 5,5%, isto implica, para manter as taxas de cobertura atuais, um esforço grande em provisões. Se passarmos de 5,5% de rácio de NPL para 10% isso representa um reforço de provisões, nos bancos, na ordem dos 3 a 4 mil milhões de euros ou mais e isso vai diretamente ao capital, e esse é o grande ponto que os acionistas dos bancos têm de ter consciência”, disse o administrador do Santander Totta, que recusa dar algum horizonte para um aumento de capital, porque há que encontrar soluções que impeçam o rácio NPL de disparar, defendeu.

O CEO do Novo Banco salientou a ligeira debilidade financeira da banca portuguesa, ao nível do capital. O desafio NPL/Capital apontado pelo administrador do Santander é partilhado também por António Ramalho.

José João Guilherme da CGD mostrou-se mais preocupado com o desemprego que pode disparar depois do fim das moratórias. “Importa estar muito perto dos clientes”, defendeu. “Quanto tempo se aguentam os restaurantes sem receitas?” Questionou o administrador da CGD.

 

Dividendos ficam na gaveta à espera de melhores dias

A banca suspendeu a distribuição de dividendos para reforçar os rácios de capital, por recomendação do BCE e, para já, não há previsões de quando é que esta suspensão será levantada. A isto a CGD respondeu que vai acatar as recomendações do regulador no que toca à distribuição de dividendos. É de lembrar que em 2020, a CGD propôs a retenção dos lucros, num total de 762 milhões de euros. Segundo a proposta do Orçamento do Estado para 2021, a Caixa deverá pagar 159,6 milhões em dividendos em 2021.

A CGD acatou a recomendação do regulador, mas entende a importância de devolver aos contribuintes o esforço que fizeram na recapitalização da Caixa, por isso, a questão dos dividendos será decidida a seu tempo”, disse o administrador do banco liderado por Paulo Macedo.

Sobre esse tema, que António Horta Osório invocou como importante para o reforço dos rácios de capital dos bancos, Miguel Maya, presidente do BCP, e Miguel Belo de Carvalho, administrador do Santander Totta, deixaram também nas mãos do regulador o momento para decidir quanto ao levantamento da suspensão da distribuição de dividendos. “O Santander irá cumprir as recomendações do regulador e a intenção dos acionistas”, disse Miguel Belo de Carvalho.

Já Miguel Maya disse que o BCP decidiu não distribuir dividendos ainda antes da recomendação emitida pelos reguladores e sublinhou que “a prioridade, num momento que ainda é de incerteza, é garantir a solidez do BCP”. O CEO do BCP disse ter a certeza que os seus acionistas [Fosun e Sonangol] suportam a estratégia do banco, que é de maior reserva, de maior resiliência, de maior capacidade de atuação num momento de incerteza”, apesar de reconhecer que é saudável pagar dividendos.

Miguel Belo de Carvalho referiu que o Santander cumprirá a recomendação do BCE no que toca a dividendos.

Noutro tema, Miguel Maya, do BCP, voltou a criticar o mecanismo de capitalização contingente do Fundo de Resolução que capitaliza o Novo Banco. No caso deste banco, “os custos anuais que temos para o mecanismo do Fundo de Resolução são de 47 milhões de euros por ano, mais do que o orçamento que tenho para fazer novos desenvolvimentos tecnológicos”. Uma afirmação que o CEO do banco tem repetido em vários fóruns.

Na perspetiva do BCP “isto não é sustentável e o que não é sustentável, em algum momento tem de ser corrigido. Somos muito insistentes na necessidade de, de uma vez por todas, haver coragem política para se alterar esta desvantagem competitiva que é criada para os bancos que criam valor na comunidade portuguesa”, fundamentou o banqueiro.

Sobre os empréstimos ao Fundo de Resolução (de 275 milhões de euros) para financiar o Novo Banco, Miguel Maya diz que a decisão de emprestar vai depender da viabilidade ou não de o Fundo de Resolução pagar o empréstimo aos bancos. “Parece-nos que é possível financiar, e consideramos participar”, admite.

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