Cada vez mais se precisa de um cenário de retoma nos EUA, que não deixará de ter consequências sobre o mundo inteiro.

O aumento do emprego no mês de julho foi muito superior ao esperado, o que constitui um sinal de vitalidade. Quase 950 mil novos empregos, 100 mil acima do que se antecipava, o mais forte aumento em quase um ano, e como se não bastasse foi revista em alta a criação de emprego em junho.

A taxa de desemprego americana caiu assim de 5,9% para 5,4%, enquanto a oferta de emprego está ao mais alto desde 2000 e os salários aumentaram 4% num ano. É obra. Isto coloca mais pressão sobre a Reserva Federal, com cada vez menos espaço para manter a política monetária ultra acomodatícia que vem praticando.

Mais um sinal, o ouro registou esta segunda-feira uma queda significativa, cerca de 4%, que o pôs ao nível mais baixo em quase seis meses e constitui outro indicador do fim da crise – um valor de refúgio é menos necessário se o clima económico for robusto.

Duas incertezas restam agora: a variante Delta, e em especial se esta vai condicionar a reabertura da economia e ter um impacto significativo a prazo; e como vai a Reserva Federal (Fed) fazer o unwind do quantitative easing, o se e quando as taxas de juro vão subir.

Recorde-se que a missão da Fed é diferente da do Banco Central Europeu: consiste em manter a estabilidade de preços e taxas de juro “moderadas” a médio prazo, mas também maximizar o emprego.

Powell tem sido particularmente prudente para não matar a retoma no ovo, mas a crítica a esta atitude defensiva tem ganho adeptos e, a manter-se o estado de coisas, vai-lhe ser impossível não agir pelo menos no início do próximo ano.

O simpósio em Jackson Hole vai permitir medir o pulso à situação. O anfitrião, Kaplan, Presidente da Fed de Kansas City, é um dos que defende a redução das compras de ativos. Porém, a questão essencial permanece: está-se de facto a deixar a Covid para trás ou a atual euforia – a bolsa americana bate recorde atrás de recorde, já vão 44 para o S&P 500 este ano – vem da receita de Lukashenko, que diz que curou a Covid com vodka?

Para a Europa, o facto mais marcante será as eleições federais alemãs, daqui a um mês e pouco. Em abril, os verdes ultrapassaram a CDU nas sondagens; se o passado de Annabela Baerbock de atleta de trampolim ajudou neste salto não se sabe. Mas nos últimos três meses caíram e estão pouco acima dos sociais-democratas, e a CDU recuperou a liderança destacada.

Quer isto dizer que o resultado vai ser renhido, e veremos que coligação vai governar a Alemanha nos próximos tempos: uma coligação à Jamaica? Ou à Quénia? O equilíbrio de forças dentro da CDU/CSU vai ser particularmente importante para se compreender qual vai ser o pendor da Alemanha pós-Merkel.

Resta-nos esperar que Laschet, o mais europeísta, possa ter um bom resultado, senão pode acontecer-lhe o que dizia Jacques Mallet du Pan: como Saturno, a Revolução devora os seus filhos…