Estamos em pleno processo de contenção do surto da Covid-19, provocada por um novo tipo de coronavírus que nos corrói o sossego e nos destroça a estabilidade. Enquanto aguardamos por um desenlace positivo e queremos acreditar que os cenários mais negativos não se irão confirmar, continuamos a corresponder aos apelos de isolamento e assistimos incrédulos às lojas e restaurantes fechados ou de acesso limitado, em ambiente quase de guerra. Ambiente inacreditável, inesperado e verdadeiramente surpreendente.

Até ao momento, a luta e o combate contra o vírus, as decisões políticas e a atitude de todos os protagonistas têm sido de significativo consenso. Não importa quem ganha, porque não vencendo a doença perdemos todos.

No meio das discussões que se travam nesta luta desigual contra este inimigo invisível, é evidente a dicotomia saúde-economia. As medidas que levam à erradicação do vírus, se tomadas tarde e de forma leve, não serão eficazes, e se tomadas radicalmente colocarão em causa a subsistência das empresas, dos empregos, pondo em causa a situação económica geral.

Ressalta deste dilema o confronto entre a salvaguarda da vida, nas medidas radicais exigidas e o impacto do shutdown que ameaça a economia sem nos apercebermos da sua real dimensão.

Esta espiral descendente, um tornado que se abate sobre todas as estruturas económicas – nacionais e internacionais –, não pode revestir nenhuma forma de hipocrisia como tantas vezes sucede, por se imaginar que a crise poderá durar pouco tempo, ainda que venha a deixar marcas profundas. Estas marcas não serão estruturais, nem tão-pouco irreversíveis, mas levarão mais tempo a curar do que as chagas que agora sofremos e que provocam milhares de vítimas.

Neste quadro de consenso, nacional, europeu, mundial, se existe um pingo de humanidade para além das anunciadas cooperações, haverá que verificar-se a efetividade das decisões politicas. Não há lugar para anúncios ou perspetivas. Se nas decisões sanitárias delas não duvidamos, desta vez e por esta vez, os apoios prometidos na economia têm de ser imediatos, não burocráticos, esquecendo défices ou a realização de superavits.

Imperioso cobrar de bancos para além dos juros, das seguradoras para além das apólices, das proclamações para além das sondagens, e das opiniões para além do parecer mal. Em qualquer caso surgirão críticas. Em todos os cenários surgirão oportunistas, como sempre. Mas, por uma vez, tornemos reais e efetivas, e para além das boas intenções, todas as decisões anunciadas.

As empresas. Principalmente, as micro, pequenas e médias empresas, as que foram encerradas compulsivamente e que precisam de ajuda real. As que dão resposta à procura e que criam emprego todos os dias. Há mais vida para além do vírus. Temos um SNS preparado física, material e psicologicamente para tratar deste assunto, interligado, sem ideologia e com ligações científicas a todo o mundo. Aqui funciona a solidariedade.

Para além da solidariedade europeia – ainda a confirmar-se –, no domínio da economia não há solidariedade. Há concorrência e interesse para além das fronteiras. Tal impõe que sejamos suficientemente sinceros, visionários e proativos para não deixar declinar a principal fonte de emprego da nossa organização económica. Não se trata de atirar dinheiro que não temos para cima de um problema. Trata-se de manter a economia e o emprego com apoios financeiros que cheguem em tempo onde importa.

Nenhuma dessas variáveis se sobrepõe na decisão. O valor vida não é negociável. Mas a chave do futuro imediato não é a vida, é a subsistência de famílias, de empresas, é a independência do país.