Na banda desenhada de Bill Watterson, Calvin diz que uma coisa notável das nossas vidas é que a situação nunca está tão má que não possa piorar. A situação nos EUA faz-nos relembrar isto, com a desistência de Biden e a provável vitória de Trump. E se nos parece muito mau, é ver que vice-presidente Trump escolheu. É, como dizíamos nos tempos extraordinários que se seguiram ao 25 de Abril, ir de Mao a Piao.

O debate de 27 de junho, desastroso para Biden, mostrou que o Presidente não está na posse de todas as suas anteriores capacidades. E levantou a questão sobre as reais razões de a sua equipa pretender um debate tão cedo na corrida presidencial: estancar as dúvidas sobre os efeitos da sua avançada idade. O tiro saiu pela culatra, como sabemos.

No dia seguinte o “New York Times” pede-lhe que termine o “reckless gamble” e desista. A 3 de julho não consegue convencer os governadores que está em forma e a 5 de julho diz a Stephanopoulos que “só Deus Todo-Poderoso o pode convencer a desistir”. Tardou em ter a conversa.

O mal está feito. É que, além de tudo, os eleitores não vão perdoar aos democratas não lhes ter sido contada toda a verdade. Trump pode permitir-se tudo, até escolher para parceiro quem disse dele em 2016 num tweet “my god, what an idiot” e na entrevista com Charlie Rose “I’m a Never Trump guy.” Agora será o Dupont quando o outro for Dupond, o que ilustra o que é. Acusa – injustamente – Biden de instigar o atentado contra Trump mas esquece o papel de Trump no 6 de janeiro.

O que se pode esperar de Trump como presidente? A situação económica nos EUA está a mudar. A inflação está finalmente a ser domada: caiu para 3% em junho, a taxa mais baixa em mais de dois anos. Mas o desemprego subiu para 4,1%, meio ponto acima do valor há um ano. Um cocktail que aponta para a descida da taxa de juro, talvez não já na reunião do FOMC da próxima semana (só 3% de probabilidade), mas proximamente.

Trump continua comprometido com cortes de impostos, o que criará mais défice orçamental, com a respetiva necessidade de financiamento (Powell não irá certamente ser reconduzido), o que vai encarecer a dívida pública a todos os prazos, e medidas protecionistas (10% de aumento das tarifas across-the-board) que provocarão inflação. A pressão sobre a taxa de juro vai voltar. E o Peterson Institute calcula que a deportação de 1,3 milhões trabalhadores custará 2,1% do PIB, o que porá os EUA em recessão. Se o futuro a Deus pertence, será Trump a chamar Deus.