Os executivos angolanos são, cada de vez mais, constituídos por tecnocratas dotados de elevadas qualificações académicas e técnicas, formados em Universidades de renome mundial. A elevação académica e técnica dos membros dos executivos não tem tido uma tradução directa na transformação económica e no desenvolvimento social do país, que são tão almejados pelos angolanos.
A fé na tecnocracia – nascida de uma visão de Platão segundo a qual os governantes devem ter um conhecimento especializado para conduzir um país, – tem levado a uma selecção de figuras com atribuições académicas, afastando, por sua vez, do exercício da actividade política os candidatos sem especialização académica ou técnica.
Em Angola, o fenómeno começou com a transformação política ocorrida na década de noventa do século passado, onde as figuras com a legitimidade revolucionária e político-partidária deixaram de estar em maioria no Governo, passando a ser substituídas por quadros do partido com a formação académica, surgindo, por conseguinte, uma legitimidade pelo saber científico. Assim sendo, já não era/é necessário ser um alto dirigente do MPLA para exercer um cargo governamental.
De recordar, por exemplo, que o princípio da tecnocracia serviu como fundamento para o alargamento do Comité Central do MPLA, bem como para o rejuvenescimento e a paridade entre homens e mulheres. Assegurou-se, assim, um espaço político para a elite tecnocrata estar no cerne do poder, no Governo e parlamento.
Esta elite tecnocrata não parecer ter a mesma a força nem o mesmo espírito de mudança que uma zungueira (vendedora ambulante que transporta os produtos para venda numa bacia ou cesta que carrega em cima da cabeça) é capaz de demonstrar, porque os tecnocratas não conseguem aceder à sensação de superação (das adversidades da vida) e não carregam dentro de si um mundo de esperança. As zungueiras têm vidas orientadas pela resiliência e são, por isso, a nossa força motriz rumo à mudança, sem nunca cederem ao seu direito à desistência.
As zungueiras traduzem, da melhor forma possível, o espírito de luta e de superação colectiva que estiveram na antecâmara da nossa luta de libertação nacional, o que motivou o desenvolvimento de uma acção colectiva e acabou mesmo por engajar um povo na condução da sua libertação. É sempre belo ver o espírito de superação projectado no canto, na dança, no choro, no sorriso e na tristeza das zungueiras que o fazem dentro de um sistema de solidariedade. Porque não existe acção colectiva sem espírito de solidariedade e de camaradagem, e isso não poderia nunca ser esquecido por quem nos governa.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.