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“Se houver uma constipação na Ásia, o mundo gripa”: Paulo Portas alerta para perigo mundial de choques económicos na China

O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros considera que estamos perante uma nova ordem económica liderada pela China e pelas potências asiáticas e que essa não tem uma ordem política “coincidente e coerente” que a acompanhe. “Crescemos num mundo que era essencialmente ocidental, atlântico e europeu, mas hoje o mundo é essencialmente asiático, pacífico e oriental”, disse Paulo Portas, na convenção Europa e Liberdade.
  • Paulo Portas
11 Março 2020, 11h59

O antigo presidente do CDS-PP Paulo Portas alertou esta quarta-feira para o risco que um eventual choque na economia chinesa pode significar para o crescimento económico global. O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros considera que estamos perante uma nova ordem económica liderada pela China e pelas potências asiáticas e que essa não tem uma ordem política “coincidente e coerente” que a acompanhe.

“Se houver uma constipação na Ásia, o mundo gripa. É absolutamente impossível entender que com a interdependência e com a integração que existem na economia moderna, um continente que é verdadeiramente responsável pelo crescimento global, poderia ter um problema sozinho. Não há problemas solitários num mundo globalizado”, referiu Paulo Portas, na abertura do segundo dia da convenção do Movimento Europa e Liberdade (MEL), na Culturgest, em Lisboa.

Numa intervenção sobre “os desafios da globalização, da desglobalização e de Portugal”, Paulo Portas chamou há atenção para o acelerado crescimento da China e do continente asiático à escala mundial. “Se há 40 anos, a China representava menos de 2% do PIB do mundo. Hoje em dia, segundo os números do FMI, representa 19,7% do crescimento mundial”, disse. Paulo Portas salientou ainda que, se a este número somarmos o crescimento das restantes economias asiáticas, veremos que a Ásia é responsável por 45% do crescimento mundial.

Paulo Portas alerta que “as pessoas que ficam excessivamente contentes com os problemas que acontecem na Ásia, têm muito pouca consciência de que esses problemas lhes podem bater à porta”. Isto porque, segundo Paulo Portas, há hoje uma “deslocação do eixo de atratividade” do Ocidente para o Oriente e há hoje “uma nova ordem económica e um dos graves erros do nosso discurso é que não há uma ordem política coincidente e coerente”.

“O mundo mudou radicalmente. Crescemos num mundo que era essencialmente ocidental, atlântico e europeu, mas hoje o mundo é essencialmente asiático, pacífico e oriental”, sublinhou o ex-ministro de Pedro Passos Coelho. “[A China] não é um rival a quem se possa opor um projeto ideológico rival político e económico. Isto porque aproveitou todas as oportunidades do capitalismo, sem cortar um milímetro que fosse o papel dominante da organização da sociedade do Partido Comunista. Era mais fácil achar que o adversário era a Rússia”, disse.

Paulo Portas defendeu que “a China foi o país que melhor safou a globalização” e considerou “impressionante que a China tenha surpreendido o mundo e as certezas dos ocidentais na globalização”. Exemplo disso, foi, segundo o ex-governante, os progressos que a China fez em termos de digitalização, ao replicar tecnologias do Ocidente à sua maneira e com tecnologias suas e que, apesar de a digitalização ser “um mundo sem fronteiras”, a China cedo estabeleceu uma “muralha digital” que a destacou neste “campeonato”.

“Não há serviço digital, pensado e construído, pelo Ocidente, que não tenha uma réplica na China, com a diferença de que há uma autoridade política que evita que essas plataformas se transformem em problemas políticos”, disse, notando que, tal como nós temos o Google ou o WhatsApp, os chineses têm o Baidu ou o WeChat.

Enquanto isso, a Europa “está de fora da liga dos campeões da digitalização” e está “abaixo dos 3% mínimos para que a Europa seja competitiva” nessa matéria, referiu Paulo Portas. Segundo o ex-líder do CDS-PP isso é facilmente visível tendo em conta que as dez maiores empresas tecnológicas são de origem chinesa ou norte-americana, com a nuance de que a China “está à beira de ultrapassar os Estados Unidos em termos de patentes registadas” inscritas na Organização Mundial do Comércio.

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