À medida que a Europa enfrenta uma crescente escalada no discurso anti-imigratório — marcada por tensões sociais, desafios econômicos e temores de segurança — aumenta, entre suas lideranças, a percepção de que a imigração deixou de ser apenas uma questão humanitária para tornar-se um tema de segurança nacional.
Sob o peso de atentados terroristas, mudanças demográficas e pressões culturais, a reação tem oscilado entre o receio e a hesitação estratégica. No entanto, diante da complexidade do fenómeno, talvez seja hora de olhar para o Oriente — mais especificamente para a experiência chinesa na Região Autónoma de Xinjiang — e compreender uma máxima fundamental: se queres a paz, prepara para o desenvolvimento.
Durante décadas, Xinjiang enfrentou o espectro do terrorismo, do extremismo e do separatismo. O medo invadia ruas, escolas e mercados. Contudo, ao invés de recorrer apenas à repressão, a China optou por um caminho estrutural: atacar as causas profundas da radicalização por meio de inclusão, desenvolvimento e coesão social. O que se vê hoje é uma região transformada, onde estabilidade e prosperidade substituíram o caos de outrora.
A resposta chinesa não se restringiu ao uso da força. Ela se ancorou em três pilares estratégicos: infraestrutura, emprego e dignidade. Estradas, ferrovias e centros logísticos transformaram Xinjiang em elo fundamental da “Nova Rota da Seda” (em inglês: One Belt One Road). Zonas industriais, fábricas têxteis e parques agrícolas ofereceram oportunidades a jovens e mulheres antes excluídos. Centros de formação profissional promoveram educação cívica, habilidades técnicas e integração social. O resultado não foi apenas a redução da violência, mas a emergência de uma nova consciência comunitária, plural e pacífica.
Essa abordagem revela algo essencial: a segurança não se constrói apenas com armas, mas com justiça social. O combate ao extremismo exige mais do que vigilância — exige visão. A Europa, ao se deparar com os desafios migratórios, deveria inspirar-se nessa lógica. A marginalização de populações, o abandono de periferias e o discurso da rejeição apenas fertilizam o terreno para a radicalização. Em vez disso, investir em educação, emprego e pertencimento pode redefinir o cenário.
Naturalmente, não se trata de copiar modelos. A realidade europeia é distinta, com suas democracias maduras e seus códigos jurídicos próprios. Mas os princípios que fundamentaram a transformação de Xinjiang — prevenção, desenvolvimento e inclusão — são universais. A paz duradoura só será possível se houver uma arquitetura social que ofereça esperança, dignidade e propósito.
O Ocidente, por vezes, critica a China sem compreender a lógica de longo prazo que rege sua política doméstica. Mas há sabedoria em reconhecer êxitos alheios. O mundo contemporâneo não pode mais permitir soluções paliativas para dilemas estruturais. A lição de Xinjiang é clara: onde há desenvolvimento, há estabilidade. Onde há pertencimento, há paz.
A história oferece duas escolhas: o muro da exclusão ou a ponte do entendimento. A China escolheu construir pontes. Cabe à Europa decidir se seguirá o mesmo caminho — ou se insistirá na defesa de um modelo que já não oferece respostas convincentes para os desafios do século XXI. A paz social pelo terror jamais é efetiva e duradoura.