A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, apelou esta sexta-feira a reformas do mercado na China e criticou o governo de Pequim pelas suas recentes ações “punitivas” contra empresas norte-americanas e novos controlos de exportação de alguns minerais essenciais.
Yellen – que parece não levar em consideração que as “ações punitivas” são mútuas, apesar de estar de visita a Pequim desde ontem, quinta-feira – disse que as medidas evidenciam a necessidade da existência de cadeias de fornecimento “resilientes” e diversificadas, e alertou para que os Estados Unidos e os seus aliados lutarão contra o que chamou de “práticas económicas injustas” da China.
Janet Yellen fez estas declarações à Câmara Americana de Comércio na China (AmCham) após ter-se encontrado com um ex-expoente da economia chinesa, Liu He, confidente próximo do presidente Xi Jinping, e com o responsável do banco central chinês, Yi Gang. A secretária de Estado vai ainda encontrar-se com o primeiro-ministro Li Qiang – no quando de visitas de altos responsáveis norte-americanos à China (o secretário de Estado Antony Blinken foi o primeiro), feitas para apaziguar os ‘ódios’ existentes entre as duas maiores economias do mundo.
Os analistas norte-americanos, citados pela agência “Reuters”, antecipam não esperar grandes avanços, com as autoridades de ambos os lados a aceitarem que a salvaguarda dos interesses de segurança nacional supera o aprofundamento dos laços económicos.
A China espera que os Estados Unidos tomem “ações concretas” para criar um ambiente favorável ao desenvolvimento saudável dos laços económicos e comerciais bilaterais, disse o Ministério das Finanças da China em comunicado esta sexta-feira. “Nenhum vencedor emerge de uma guerra comercial ou da dissociação e ‘quebra de correntes'”, dizia o comunicado – evidenciando que Pequim está convencida (com certeza suportada pelo histórico das ações do ex-presidente Donald Trump contra a China) que a responsabilidade do ‘first blood’ é dos Estados Unidos.
As empresas norte-americanas na China esperam que a visita de Yellen garanta que as rotas comerciais entre as duas economias permaneçam abertas, independentemente da temperatura das tensões geopolíticas. O presidente da AmCham, Michael Hart, saudou o “poder de fogo extra” de Yellen ao pressionar mudanças nas políticas da China. “A visita de Yellen é significativa porque permite que mais debate aconteça, permite que mais pessoas de nível médio de ambos os lados conversem”, disse. “Acho que se houvesse mais um ano sem visitas dos principais líderes do governo dos Estados Unidos, o mercado ficaria mais estagnado”, acrescentou.
O esforço diplomático dos Estados Unidos ocorre no quadro de um possível encontro entre os presidentes Joe Biden e Xi Jinping na cimeira do G20 em setembro, em Nova Deli ou na reunião de Cooperação Económica Ásia-Pacífico marcada para novembro em São Francisco.
Yellen disse que deixaria claro às autoridades chinesas que Washington não está interessada “numa separação total das economias”, mas levantou preocupações sobre o uso de subsídios às empresas (estatais e privadas), barreiras ao acesso ao mercado chinês para empresas estrangeiras e recentes “ações punitivas” contra empresas norte-americanas.
A secretária do Tesouro (a ministra das Finanças lá do sítio) disse que Washington ainda está a avaliar novos controlos de exportação chineses sobre gálio e germânio, minerais críticos usados em tecnologias como semicondutores, mas adiantou que a medida evidencia a necessidade de “cadeias de fornecimento resilientes e diversificadas”.
Yellen também instou Pequim a retornar a práticas mais orientadas para o mercado que sustentaram o seu rápido crescimento nos últimos anos – análise que não é necessariamente correta, dado que os financiamentos patrocinados pelo Estado chinês são uma prática que já leva várias décadas – e são também, convém não esquecer, um instrumento tradicional do capitalismo de Estado, vertente leninista da economia que Pequim pratica com rigor.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com