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Sector público é alvo de um terço dos ciberataques em Portugal. Solução passa por mais investimento em prevenção, dizem especialistas

As autarquias tornaram-se aliciantes para os hackers, alertaram especialistas no ‘webinar’ “As Autarquias e o desafio da Cibersegurança”, defendendo que a solução aos desafios da nova realidade passam por mais investimento em cibersegurança e na sensibilização de quem trabalha com dados.
22 Junho 2021, 13h44

Um em cada três ciberataques tem como alvo entidades públicas, em Portugal, segundo dados do Observatório de Cibersegurança citados pelo diretor-geral da portuguesa Skillmind, Rui Sousa, e por Bartolomeu Noronha, presidente do conselho científico do Observatório das Autarquias Locais, esta terça-feira durante o webinar “As Autarquias e o desafio da Cibersegurança”.

“O sector público é alvo de um terço dos ciberataques em Portugal, sendo as autarquias as mais visadas pelos cibercriminosos”, afirmou Rui Sousa num webinar que pretende alertar para a problemática da cibersegurança no poder local.

Já Bartolomeu Noronha explicou que os municípios “passaram a ser um repositório cada vez maior de informação dos cidadãos” e que a solução para os desafios à cibersegurança passam por “mais investimento”, visto que as autarquias são hoje um “repositório muito valioso, porque os dados são o petróleo do século XXI”. “Há um grande perigo de se aceder a esses dados ilegitimamente”, disse.

Segundo o responsável da Skillmind, uma empresa de Braga que desde há dez anos presta consultoria tecnológica ao sector público (por exemplo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros) e ao sector privado (Sporting de Braga, por exemplo), 15% dos ciberataques no sector público têm como alvo as câmaras municipais, por serem “bastante apetecíveis”.

As autarquias tornaram-se aliciantes para os hackers porque há hoje uma “multiplicidade de redes da Internet das Coisas” ligadas aos municípios, em áreas como educação, ação social, saúde, gestão de resíduos ou iluminação pública. O que se traduz num volume significativo de dados alojados no mesmo organismo. “Tudo isto contribui para alimentar as ciberameaças”, disse Rui Sousa.

Para este especialista, a solução passa por ” acelerar a preparação das instituições” públicas à nova realidade, colocando “sempre uma opção cada vez maior na segurança dos sistemas de tecnologias de informação”.  É que o “progresso assente na transformação digital só poderá traduzir-se em valor para as organizações se o mesmo for acompanhado de um reforço das competências digitais em cibersegurança e da sensibilização da sociedade para as oportunidades e os riscos do ciberespaço”.

Caso da Câmara Municipal de Lisboa alerta para nova realidade

O presidente do conselho científico do Observatório das Autarquias Locais concordou com a leitura de Rui Sousa, alertando para a “transmutação do espaço”. Isto é, “há 30 anos as câmaras municipais tinham meia dúzia de dados informáticos”, enquanto hoje o espaço físico foi substituído pelo “espaço da internet”.

Para Bartolomeu Noronha, a cibersegurança “é uma necessidade cada vez maior, o que obriga a metodologias cada vez mais avançadas”. A solução passa por mais investimento e pela sensibilização de que as autarquias têm “informação muito sensível”.

O especialista apontou, por isso, o que aconteceu na autarquia de Lisboa recentemente como um exemplo de como é necessário investir em cibersegurança. Escusando-se a considerações sobre a responsabilidade do que a aconteceu na Câmara Municipal de Lisboa, que terá enviado dados de manifestantes em 52 protestos organizados na capital.

“Ninguém está livre de ter um problema com um ciberataque ou de uma informação que por causa de um mecanismo acabou por ir para outro sítio”, sublinhou. Por isso, realçou a importância do que aconteceu para “pela primeira vez” se falar na responsabilidade máxima sobre os dados na posse de uma câmara.

“Quem é que é o último depositário, o último guardião das informações? É o presidente de câmara. E sendo o presidente de câmara, a hierarquia que está abaixo tem de estar completamente motivada e atenta a tudo o que pode acontecer”, concluiu.

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