A segurança e saúde no trabalho têm tido enormes desenvolvimentos nas últimas décadas. Apesar de cada vez mais, os nossos empresários, líderes e trabalhadores terem hoje uma maior consciência da importância de adoptarem comportamentos ajustados a uma cultura de prevenção e promoção da saúde nos locais de trabalho, os factos ainda demonstram que esta mesma cultura não tem ainda o enraizamento e generalização necessária e consentânea com o contexto actual, as exigências e os desafios do mundo de hoje.
Uma cultura de segurança e de saúde nas organizações exige legislação adequada, mas muito mais do que isso. A sua fiscalização, sensibilização permanente e acima de tudo lideranças e práticas de gestão comprometidas com estratégias e planos baseados na evidência científica e não no simples “achómetro” ou nos ganhos de curto-prazo, são aspectos essenciais.
As grandes organizações, sustentáveis, competitivas e adaptadas aos desafios de hoje, investem no desenvolvimento organizacional e da sua cultura e na promoção de comportamentos que estrategicamente assegurem segurança e bem-estar. Poupam assim recursos. Vinculam e captam talentos. Quem quer ir para uma organização que seja conhecida pelos acidentes no trabalho ou pelo assédio moral e desrespeito pelas competências dos seus funcionários, sem uma comunicação próxima e estimulação da autonomia das pessoas?
Uma nova geração quer mais do trabalho do que a simples troca mercantil de tempo e esforço por dinheiro. Quer reconhecimento, significado para o trabalho que desenvolve, sentido de pertença, quer uma missão. A pandemia que vivemos trouxe-nos um olhar diferente e mais atento sobre o teletrabalho ou sobre a conciliação trabalho/vida pessoal ou familiar.
O Parlamento prepara-se para legislar sobre esta matéria. Para além dos parceiros sociais, dos diversos interesses em jogo e que devem ser escutados, está o contributo de profissionais e da ciência, sobre o que está em jogo, os impactos desta nova realidade e que o legislador deve saber para que a legislação final seja, de facto, efectiva no cumprimento do objectivo social que os cidadãos esperam que o legislador cumpra na sua produção.
Há muito que chamamos a atenção para a necessidade de trabalharmos preventivamente os riscos psicossociais, onde as questões da conciliação atrás referidas se inserem. Mas, existem muitos mais riscos do que este e a decisão política, do legislador ou do ramo executivo do poder – o Governo, deve ter uma abordagem holística. Holística quanto às políticas, à prevenção e aos diferentes riscos e não só a este ou aquele. Holística quando à saúde física, mental e social e não apenas física como habitual, não apenas de remediação da doença ou da sua prevenção, mas de promoção do bem-estar.
Como escreveu o psicólogo norte-americano Adam Grant no “New York Times”, na passada semana, e como temos disseminado repetidamente, entre a ausência de doença e a perturbação mental está um contínuo de ausência de bem-estar até ao florescimento. Quando estamos em perda e a caminho desta ausência de bem-estar, estamos como que a definhar, por vezes lentamente, sem que apresentemos qualquer sinal de doença. Todavia, o nosso desempenho entra em queda, a motivação vai-se reduzindo, a capacidade de concentração e foco também e aumenta o risco de virmos a desenvolver uma doença mental.
É por isso que o trabalho também é uma questão de saúde pública. É por isso que precisamos de uma visão holística desta natureza humana e comportamental, que a Psicologia nos dá e que os psicólogos aplicam, no respeito, cada vez mais necessário, de normas éticas e deontológicas, tão importantes para a nossa coesão social e confiança nas instituições. Mais informação em maisprodutividade.org
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.