Foi uma semana recheada de acontecimentos que mereciam a nossa reflexão. O criminoso fugitivo da Aguiar da Beira que, enquanto escrevo, ainda o é, valia uma análise profunda aos mistérios que encerra a mente humana. A destemida ação das forças de segurança – tantas vezes criticada, mas mais vezes ainda vitimada – seria assunto digno de comentários. Florêncio de Almeida, só por si, encheria um livro de António José Saraiva. Saraiva haveria de discorrer em várias páginas explicações sobre a relação do presidente da ANTRAL com tantas empresas relacionadas com o universo dos táxis, ‘tuc-tucs’ e carroças. As infantilidades dos taxistas, face à ameaça da “Uber-papão” e do “Monstro Cabify” justificariam uma consulta a Daniel Sampaio e as leviandades de Trump ganhariam com uma intervenção de Júlio Machado Vaz. Não nos cansaríamos de enaltecer o feito alcançado por António Guterres e de sublinhar a ovação que o novo secretário-geral da ONU recebeu da Assembleia Geral. Podíamos, ainda, comentar a alegada ligação do marido de Assunção Cristas ao negócio da Uber ou discorrer sobre a “direita furiosa” e o debate do Orçamento do Estado.

Mas o que nos leva hoje a escrever este artigo é uma notícia simples de alcance complexo: a Samsung anunciou esta semana que vai deixar de produzir o último modelo do Galaxy Note e que todos os exemplares vendidos devem ser devolvidos. O que ditou esta medida por parte da empresa de tecnologia foi a deteção de uma anomalia que faz com que as baterias destes smartphones expludam. A Samsung revelou, ainda, que vai dar 100 dólares aos clientes que escolham trocar o Galaxy Note 7 por qualquer outro telemóvel da Samsung, e que vai oferecer 25 dólares aos que pedirem a devolução total do dinheiro do smartphone ou quiserem trocar o Note 7 por um equipamento de outra marca. Esta iniciativa, que vai ditar milhões de prejuízos para a marca, justifica-se para evitar a ruína de toda a imagem e império da Samsung!

Há já quem diga que o ambiente vai perder muito mais do que os dois mil milhões de dólares da Samsung, mas, sempre se defenda que por vezes é necessário sacrificar uma árvore para salvar a floresta. Sem prejuízo da proteção da natureza portuguesa, questiono-me como seria se, por cá, replicássemos esta medida: de cada vez que um governante “metesse água” e se detetasse uma anomalia, esse governante seria “retirado” para não prejudicar toda a imagem do aparelho que o colocou em funções. Seguindo esta lógica, Rocha Andrade teria seguido de volta para a Universidade. Assim seria também com os magistrados: Carlos Alexandre já estaria a pensar abraçar as funções de tesoureiro das festas em honra de Santa Maria, em Mação. Ricardo Salgado, não mancharia a reputação sólida dos banqueiros e estaria, há muito, a dedicar-se ao turismo pobre da Comporta. Os farmacêuticos do Hospital de Santa Maria veriam a luz do dia num outro ramo de atuação. Seria assim com taxistas, professores, lojistas, empreiteiros…Com isto garantia-se a satisfação dos “clientes”, fazia-se uma natural seleção das espécies e talvez pudéssemos candidatar o país ao Nobel da Paz… ou ao Nobel da Economia… ou a outro qualquer!